Monday, September 2, 2013

O poder da síntese

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Quase todo grande escritor ou pensador deixa como legado uma ou diversas belas frases, que com um extremo poder de síntese, explicam ou abrem o leque para compreender profundas verdades sobre a natureza ou a alma humana. Muitas vezes, apesar da produção de milhões de palavras em livros e artigos, o intelectual acaba sendo lembrado pela numericamente humilde, porém, bem colocada frase.

Sem dúvida, a capacidade de síntese é um dom ímpar e raro. Eu mesmo, dado a umas tortas letras, vez por outra crio "pérolas" que pelo jeito só brilham na minha cabeça, "máximas" que no meu ver, se emparelham em estatura com frases geniais e antológicas de Rui Barbosa e William Shakespeare, mas que não passam de fraseúnculas de efeito, nada mais.

Considere o seguinte. Nunca na história da humanidade, houve tanta gente com títulos de doutorado, pós doutorado, mestrado ou bacharelado. Terminar o curso secundário, numa época sinônimo de maturidade intelectual, hoje é uma coisa corriqueira até em países dos mais pobres. De fato, o terrivel analfabetismo, que condenava para a ignorância milhões e milhões de mentes, hoje é terreno de uma minoria. Nunca também houve tanta gente com domínio, ou pelo menos conhecimentos, de mais de um idioma.

Junta-se a isso a internet, que supostamente "democratizou" a informação no mundo, possibilitando acesso instantâneo a bilhões de textos sobre quase todos os assuntos em uma grande multiplicidade de idiomas. Só não dá os números certos da mega-sena com antecipação- e de fato - nada que o vai enriquecer financeiramente. Essas informações ainda permanecem secretas e protegidas a sete chaves, e  só alguns poucos privilegiados têm acesso às mesmas...Certas coisas nunca mudam.

Paradoxalmente, com tantos canudos na parede e na cabeça, com relativamente pouco analfabetismo,  e com a democratização da informação, as pessoas se comportam cada vez mais como analfabetas e autômatos. Respondemos com mais presteza e exatidão a ícones desenhados do que frases inteligíveis, na mesma forma que um analfabeto escolhe o produto certo no super-mercado por reconhecer a embalagem.

Por outro lado, vivemos num mundo de frases feitas, palavras de ordem e soundbytes (ou soundbites), usados sem qualquer limite na publicidade, na mídia, no jornalismo. Estamos ficando condicionados a consumir somente o curto e grosso.

Para piorar, as redes sociais nos deram a impressão de que é possível ser extremamente relevantes com uma frase construída com pouco cuidado, com muita generalização barata e com parco conteúdo. O twitter não só incita, como exige que o indivíduo dê seu recado em 140 toques do teclado.

Por último, a tecnologia também nos leva a abreviar, usar emoticoms, e escrever torpedos que certamente não seriam entendidos a meros 10 anos atrás, levando ao uso de frases sem verbos, adjetivos ou advérbios desenhados, sem conjunções, e abreviaturas desnecessárias e nem sempre padronizadas, dado o pequeno ou nulo custo da transmissão da informação. Frases equivalentes a "eu Tarzã, você Jane". Ou melhor, "Me Trz, vc Jn".

O resultado é óbvio. Monstruosidades desconexas e vulgares circulam nas redes, como se fossem resultados de mentes iluminadas, mas não passam de simplórias frases de efeito. De máximas nada têm, na melhor da hipótese, são mínimas. E bote mínimo nisso. Em suma, para criar uma relevante máxima, é preciso ter o raro dom da síntese.

Se você leu este texto na íntegra, parabéns. Você faz parte de uma minoria que não desiste no meio do caminho de qualquer texto com mais de 140 toques.