Tuesday, June 24, 2014

Algumas baboseiras sobre a copa etc e algumas coisas sérias

De repente, me lembrei dos idos de 1998, 1999. Naquela época, alguns esperavam o fim do mundo, o colapso total dos sistemas de informática, que não saberiam como passar de 1999 para 2000. O Y2K. Muito se falou - e se gastou - sobre o assunto. Apareceram especialistas de todos os lados, teve gente comprando comida, água, pilhas. Eu mesmo acabei traduzindo diversos planos de recuperação de bancos, caso houvesse o temido colapso. E de tanto ouvir falar sobre o assunto, fiquei semi-paranóico durante duas semanas. Na base do "yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay", resolvi - timidamente - começar a estocar comida. Minha primeira - e última - provisão foi um lote de 24 latas de milho. Acabei chamando-os de MILHÊNIO, e dei a maioria das latas para amigos, quando passou a paranoia.

O resultado, todos sabem. Não houve colapso de sistema bancário, financeiro, energético, nada. EM NENHUM LUGAR. Pelo jeito, era tudo uma grande armação.

Ser precavido é bom, porém, também é bom cheirar armação de longe.

Confesso que até eu achava que a Copa seria um desastre total no Brasil, que o país não estava preparado, o escambau a quatro. Pelo jeito, não houve tantos problemas quanto na Copa da África do Sul. Na hora H até os mais ávidos manifestantes estão com as TVs e computadores ligados nos jogos e colecionando figurinhas...

Sei que havia um ângulo político, e ainda há. Vai haver manipulação? Provavelmente. Houve roubo? Certamente. Não sou tão estúpido. Alguns hão de dizer que as coisas estão bem por causa da intervenção da heroína imprensa, tipo "se a imprensa não tivesse falado tanto, aí sim iria acontecer um desastre". Que me desculpe a imprensa, seria um pouco Chimentesco dizer que o sucesso da Copa, até agora, foi devido ao escrutínio do quarto poder. Se fosse para dar meleca, teria dado, com ou sem imprensa. Sem trocadilho, acho que uma prensa da FIFA foi mais vital do que milhares de artigos e programas que exaustivamente mostraram que a Copa seria um vexame. Convenhamos, no fim das contas, o que vale é dinheiro no bolso e paz. E ninguém quer ser processado pela FIFA, sediada ainda por cima na Suiça. A adimplência de contratos é o que contou para o resultado até agora bom.

Ok, não há trens balas, a pobreza ainda existe no país, nossos aeroportos não são Schiphol ou Miami, e, de modo geral, muito pouca gente ganhou dinheiro com a Copa. Ou vai ganhar. De fato, os jornais de hoje dizem que a criação de empregos formais neste mês de maio foi a menor para este mês nos últimos 22 anos!

Agora, francamente, um cara que mora no interior do Piauí ou Rondônia, ou em qualquer cidade que não seja sede da copa, não mexe com turismo, hotelaria, restaurantes, logística, mídia ou construção, nem gosta de futebol, ora bolas, o que esse cara achou que iria ganhar, em termos financeiros, com uma Copa do Mundo? O cara é encanador em Blumenau e achou iria ganhar grana com a Copa?

Acho que no fundo essa foi a bronca dos milhares que foram às ruas. CADÊ MINHA GRANA? Acharam que ia sobrar algo para eles, e quando não sobrou, ficaram uma vara, viraram blackblocks e sininhos!!!

Não se trata de defender o governo, ou qualquer partido político, até porque, quem me conhece sabe muito bem que sou apartidário. Entretanto, a linha geral de ataque CONTRA a Copa, que o dinheiro poderia ser usado na construção de hospitais e escolas, me parece um tanto falha, e vou explicar porque.

Primeiro, por que o valor é relativamente insignificante, considerando as grandes necessidades do Brasil. É um fato. A carência do país nestas áreas (educação e saúde), provavelmente soma alguns trilhões de reais. Vejamos, por exemplo, as faustas e faraônicas aposentadorias de um grande número de servidores públicos (e am alguns casos, filhas de servidores públicos mortos há décadas, não casadas). Este é um problema muito mais sério, constante, em expansão, estrutural, e não pontual, do que a Copa. A Copa é pinto, em termos das fortunas que são gastas com estes exagerados benefícios.  Que me desculpem os beneficiados...

Segundo, tratar tal evento como completamente supérfluo é um precedente perigoso, que poderia levar ao raciocínio de que todo e qualquer evento esportivo, artístico ou cultural é supérfluo. Afinal de contas, isonomia é boa, a faz bem. Obviamente, aqueles que gostam de artes plásticas iriam chiar se o governo começasse a fechar museus, afinal de contas, precisamos de hospitais e escolas, museu é supérfluo. Vêm como o raciocínio é perigoso?

Muitos artistas andaram debandando a falar mal da Copa, frisando justamente a má alocação de fundos. Porém, salvo por Lobão, e provavelmente outros que desconheço, poucos artistas falam mal da Lei Rouanet, que direta ou indiretamente, reduz o fluxo de recursos para o governo ou os extrai, criando incentivos para patrocínio de eventos ou produtos culturais. Eu sou um cara da cultura. Porém, um sujeito como o Gilberto Gil, que inclusive já foi ministro, não precisa de recursos da Lei Rouanet para fazer um show!!! Não tenho ideia de quantos projetos já foram aprovados sob a égide desta lei, porém, imagino que devam ser milhares, alguns envolvendo recursos milionários.

Ou seja, em corporativismo puro, alguns artistas - que provavelmente não gostam de futebol, ou não querem admitir que gostam, ou querem Ibope - combatem o uso de bilhões na construção de estádios (que inclusive poderão ser usados para seus shows, no futuro...), porém, nada dizem quando pencas de artistas de renome abocanham verdadeiras fortunas de dinheiro público para fazer shows, sem contar o grande número de livros, CDs e DVDs financiados com tais recursos. Às vezes são shows mequetrefes e meia-boca, só com o artista, um violão, sua voz desafinada, nem banda contratam! E sabe-se lá se os fundos não terminam imobilizados em cimento e vidro em Paris, Nova Iorque, Miami...

Sem tirar o foco, se considerarmos uma Copa do Mundo supérflua, então, todo dinheiro público gasto em concertos, exibições, exposições, carnaval, e todo e qualquer evento esportivo é tão supérfluo quanto a Copa. E diga-se de passagem, na somatória, estes fundos provavelmente dão algumas Copas por ano! Vamos cancelar tudo então? (Cabe lembrar que quando uma empresa reduz sua carga tributária por patrocinar um evento ou produto cultural, o governo arrecada menos, tirando de circulação dinheiro que poderia ser gastu em hospitais ou escolas. Existe um custo, sim. Em síntese, é isso).

Enfim, temos aqui uma boa dose de hipocrisia, além de um faux elitismo. Dizem que rock and roll é 90% postura, 10% talento. Olha, não é só no rock. Muita gente se incomoda muito mais com sua postura do que conteúdo. Existe um povo no Brasil que se auto denomina eliteculturalformadordeopiniãogentefinadealtonível, e adora desdenhar do futebol, por exemplo, por ser "popular". E com a boca cheia, adoram dizer que têm uma visão mais "europeia" da vida. Pois bem, na Europa inteira os estádios ficam cheios, durma-se com um barulho destes! Europeu é doido por futebol! Essa afetação besta acaba sendo uma boa dose de ignorância do aspirante a elitista. Se não gosta de futebol, ótimo, agora, não vai querer se ufanar empombadamente de ser uma pessoa de um "nível cultural tão alto" que detesta este esporte (mas até aguenta o tênis e o golfe, esporte de gente mais fina. De novo a danada da postura).

Por fim, fico imaginando a tal copa em Catar. Nosso país tem dimensões continentais, e parte do problema tem sido exatamente esse, a distância entre as cidades sede. Agora, o Catar é minúsculo! Se construírem ez estádios no  "país", não vai sobrar espaço para ninguém viver ou circular. Ou será que vão connstruir um em cima do outro, em forma de veleiro?

E tenho dito.

Tuesday, June 17, 2014

Todo brasileiro é técnico de futebol, sou brasileiro, portanto....

Antes de mais nada, confesso que sou grosso em futebol, com G maiúsculo, e que a última vez que joguei algo parecido com uma partida de futebol inteira  faz mais de 25 anos. Entretanto, não me venham com essa argumentação de que não tenho capacidade para opinar sobre o assunto, devido à minha falta de experiência em campo.

Escrevo sobre automobilismo, e nunca corri. Muitos interlocutores que um dia já correram (que seja duas ou três corridas) se julgam mais capacitados para opinar sobre o esporte de modo geral, e cansam de dizer isso no facebook, foruns, etc, etc. É verdade que a experiência é importante para obter certas informações sobre qualquer faceta da atividade humana, mas nem todas. Além disso, muitas das mesmas pessoas que usam esse artifício no tocante ao esporte motor, se julgam capacitadas para opinar sobre política, sem nunca ter ocupado cargo político, sobre economia, sem saber quem foi Adam Smith, e sobre música, sem saber a diferença entre compasso, harmonia e tom, sem contar opiniões sobre religião, filosofia, ciência, negócios, etc. Isto não os impede de vociferar opiniões sobre tudo, sobre todos, com fortes doses de desconhecimento histórico de todos os assuntos. Inclusive história do automobilismo, no caso de alguns ex-efêmeros pilotos.

Isto posto, o que vou dizer aqui não requer nenhum conhecimento mais profundo de táticas e esquemas futebolísticos, visão de jogo, jogar sem bola, e tantas outras coisas que os especialistas adoram mencionar às pencas para diferenciar-se dos meros seres humanos "que nunca jogaram bola mesmo". Para chegar a certas conclusões, basta um pouco de raciocínio e sensatez. E creio ter ambos,.

Comprei um livro que contém as súmulas de todos os jogos do Santos, de 1912 a 2012. Já li milhares delas, e junto com meu razoável conhecimento histórico do nosso futebol, posso falar com autoridade sobre este tópico específico. No seu auge, o Santos contou com um plantel mais ou menos fixo durante anos. O técnico Lula esteve à frente do time durante mais de dez anos. Não era só Pelé que estava em todas, Zito, Lima, Pepe,  Mengálvio, Coutinho, Toninho Guerreiro, Edu, Clodoaldo, Carlos Alberto, Dorval, Gilmar, jogaram anos a fio juntos. Até mesmo alguns reservas como Douglas, Turcão, Oberdan, Pitico, Léo, fizeram parte do elenco durante muitos anos.

E isso não ocorria só com o Santos. O Botafogo do Rio, o Palmeiras, o São Paulo, o Cruzeiro, de fato, todos os grandes times conseguiam segurar seus melhores jogadores como Ademir da Guia, Jairzinho, Dudu, Rivellino. Dirceu Lopes, Zico e muitos outros coadjuvantes, durante diversas temporadas.

O nosso futebol é supostamente rico em talento, porém, falta-lhe o dinheiro. Sendo assim, hoje em dia um time contrata um jogador, se esforça para pagar 500 mil por mês, daí aparece um time da Europa e leva o cara embora com uma conversa mole. Sem contar a garotada das bases, levados às dúzias para times dos quatro cantos do mundo, e jogadores que adoram trocar de time dentro do Brasil a cada seis meses. Sendo assim, os ídolos dos times brasileiros, na atualidade, são passageiros. Muitos "ídolos" não ficam mais de um semestre nos grandes times do nosso Brasil, que têm que estar sempre improvisando, implorando jogadores emprestados, ou comprando "estrelas" por milhões com resultados questionáveis, como está sendo o caso de Leandro Damião no meu sofrido Santos.

Entretanto, há um time brasileiro que pode trabalhar com um elenco basicamente fixo durante quatro anos ou mais. E este é a Seleção brasileira.

O que se viu nos quatro anos de "preparo" para a copa foi um smosgarbord de jogadores de diversos matizes, procedências,  idades e experiência, basicamente sendo usados em jogos de pouca relevância, com exceção da Copa das Confederações. Ficou claro que o elenco atual simplesmente não se entende, e não poderia ser diferente. Os caras simplesmente não jogaram juntos suficientemente e muitos não jogam no Brasil há anos, mal se enfrentaram nos campos no Brasil, muito menos na Europa!

No passado, achava-se que o abundante talento dos jogadores brasileiros poderia superar até mesmo a falta de entrosamento. Porém, fica muito evidente não só com este elenco atual, mas com a geração inteira de futebolistas brasileiros, no quesito talento não somos mais aquela unanimidade dos anos 50 a 70. Há muito jogador mediano na seleção, quem sabe um ou outro semi perna de pau.

Na minha humilde opinião, se fosse determinada uma base de pelo menos 11 jogadores desde o começo da preparação, hoje teríamos um time entrosado. Agora, devemos esperar que o entrosamento ocorra em campo, num curtíssimo espaço de tempo.

Sendo assim, já que o erro está feito, só nos resta esperar que o fator casa conte, e que o Brasil supere seus óbvios problemas na raça, pois no entrosamento e talento estamos fritos.