Saturday, February 22, 2014

Aquele que muito puxa, mais cedo, mais tarde, muito enche

Se você ainda não descobriu do que se trata, esta frase, humildemente concebida por mim, se refere a bajuladores. Portanto, depois de puxa e enche vem uma outra palavra, um substantivo. Não se trata de uma mera equação entre verbos. Use a imaginação.

Entre os comportamentos humanos patológicos, a bajulação está na minha lista entre os mais desprezíveis, pois geralmente vem acompanhado de uma série de outros comportamentos tão ruins ou piores, como a falsidade, traição, egoísmo, etc.

Por trás de cada elogio demasiadamente exagerado e mal colocado de um bajulador, vem um preço, que é devidamente registrado no livrinho mental do bajulador. Um dia, mais cedo, mais tarde, vem a cobrança, e a encheção começa. Em outras palavras, os elaborados elogios do bajulador se escondem por trás de um objetivo, sempre egoísta. Ele sempre quer algo do objeto da sua "admiração" excessiva.

Tomo a liberdade de imaginar que entre os grandes bajuladores da história da humanidade encontra-se um certo Judas Iscariotes. Não há lugar algum na Bíblia que diga isso, porém, é fácil imaginar que Judas, que acabou sendo mais conhecido pela personificação da traição, era um bajulador de marca maior. E tinha seus objetivos, que ao serem desafiados, abriram o caminho para sua magnum opus.

É fácil ver traços da personalidade de alguns discípulos de Jesus. Pedro era belicoso, cabeça dura, gostava de discutir. Tomé cheio de dúvidas, queria provas para tudo. Filipe era prático, Mateus lógico, João, amoroso. Os traços da personalidade de Judas Iscariotes me levam à conclusão de que era um bajulador.

De Judas, sabemos que era ele que cuidava da grana. Não só cuidava, como metia a mão de vez em quando. Como não era muito dinheiro, um belo dia Judas ficou injuriado quando um vidro de caríssimo perfume foi gasto para ungir Jesus. Para justificar sua indignação, quis dizer que o dinheiro do perfume poderia ser melhor usado em benefício dos pobres, se tivesse sido doado para o caixa sob seus cuidados. Na realidade, preocupava-se que a farta quantia estaria fora do seu controle, e não com os pobres. Foi aí que Judas decidiu que era hora de vender o seu bem mais valioso, o acesso pessoal a Jesus.

Como bom bajulador, Judas era dissimulado. Assim, quando Jesus declarou que um deles o trairia, Judas teve o descaramento de perguntar se era ele!!! Não só isso, quando o entregou às autoridades, Judas beijou Jesus na face para mostrar aos guardas quem deveria ser preso. De memória, acho que é o único beijo dado em Jesus por um dos apóstolos.

Ou seja, Judas era egoísta, tinha falsos motivos e ambições, era dissimulado, falso, e traidor. Todas marcas do bajulador de mão cheia que tenho encontrado nos meus 53 anos de vida. Isto me leva a crer que dentro do seu modus operandi estava a bajulação.

Um dia, o bajulador trai o bajulado, quando seus objetivos não são mais atingidos.

Não é à toa que a bajulação corre solta no mundo da política, dos altos negócios, das artes, de fato, em todo ambiente em que haja muito dinheiro, fama e poder.

Portanto, sempre que alguém te bajular, tome cuidado. A traição pode não estar distante.

Monday, February 17, 2014

As pressões desta era

Francamente, não vejo muita vantagem em viver além dos cem anos de idade. Muita gente hoje comemora isto, a extensão da longevidade, como uma conquista da ciência médica, porém, convém lembrar que como sempre ocorre nas últimas décadas, a lerda sociedade não acompanha o ritmo da ciência.

Hoje tenho 53, portanto, ainda faltariam 47 anos para chegar na idade mágica. Tenho dez graus de miopia e problemas auditivos nos dois ouvidos, portanto, salvo se a ciência médica colaborar, com a proverbial ajuda do bolso, teria uma velhice um tanto desprovida de benefícios sensoriais. E sabe-se lá o que mais.

Voltemos ao bolso. Provavelmente consigo trabalhar num ritmo próximo do meu atual até os 75 anos. Ou seja, teria uns 25 anos para desfrutar de descanso bem merecido. Agora, quem pagaria a conta da minha aposentadoria? Seria descanso mesmo, ou aporrinhação ad extremis?

Do jeito que estão indo as coisas, as aposentadorias públicas, se ainda existirem daqui há uma duas décadas, estarão bastante desprovidas do seu valor integral e serão pagas meio à toque de caixa, mais desvalorizadas do que o nosso surreal real. Certamente não vão dar para comprar muita coisa, se não forem completamente aniquiladas por algum governo banzai. Sendo assim, teria que viver, sem trabalhar (ou trabalhando pouco), da pouca aposentadoria e economias ganhas durante meus anos produtivos. Coitado de mim.

É bem possível que ocorra algum bom incidente de percurso, e de repente, possa desfrutar da idade de ouro, e não de idade de ourina. Porém, é preciso ser realista, acima de tudo. E a realidade é sombria, não só para mim, como para grande parte da humanidade.

Sim, a medicina alongou a expectativa de vida das pessoas, porém, embora muitas pessoas estejam durando até 100 e pouco, a grande maioria ainda continua bastante debilitada ao chegar nos 70 e poucos anos. A medicina não conseguiu aumentar tanto assim o vigor dos idosos. Há excessões, porém excessões sempre existiram, até na insalubre Idade Média. A esmagadora maioria não tem condições de trabalhar ao se tornar octogenário, e assim, tem que viver do que sobrou.

Outra coisa. A herança tem sido, há séculos, um dos maior propulsores de expansão econômica do mundo. Um bom empreendedor consegue multiplicar seu quinhão muitas vezes. Sim, há os gastões, que aniquilam verdadeiras fortunas em alguns anos. Porém, muitos dos self-made man do mundo na realidade, tiveram uma nada insubstancial ajuda de um imóvel aqui, uma fazenda acolá, e montaram seus impérios assim. O folclore nos diz que saíram do nada, porém, do nada não saíram. Oras, o que vai ocorrer quando as heranças começarem a ser herdadas, no atacado, por senhores de 70 anos, já sem o vigor para montar impérios? Parece cruel falar sobre este assunto, porém, não estou querendo ganhar concursos de popularidade com este post ou este blog.  

E há outras pressões. Pressão para obter níveis cada vez mais altos de educação, que significa ficar mais tempo na escola e entrar mais tarde no mercado de trabalho, e ao mesmo tempo pressão para se aposentar mais cedo, pois todos sonham em se aposentar mais cedo! A relação entre aposentados e contribuintes é crítica em diversos países, em grande parte por que os países trataram seus sistemas de seguro social como esquemas de Ponzi, e não deveria ser assim. Até o Brasil, sempre conhecido como um país de "jovens", será um país com muitos idosos daqui uns 20 e poucos anos, com cada vez menos jovens contribuindo.

Ou seja, há tanta coisa a festejar assim?

Esqueçamos os sistemas de aposentadoria oficiais, e concentremo-nos nos fundos de pensão. Estes administram verdadeiras fortunas, e estão, assim como todo mundo, em busca de investimentos que valham a pena. Sendo assim, trilhões de dólares são investidos por fundos de pensão em empresas de capital aberto e private equity no mundo inteiro. Estes fundos de pensão não querem ser acionistas só por causa da valorização ou prestígio das ações - buscam ganhos em forma de dividendos, e na realidade, forçam as empresas a dar lucros às vezes irreais, pois os fundos precisam de grana para pagar seus pensionistas, cada vez mais bufunfa. Sendo assim, estes fundos frequentemente forçam estas empresas a dar cada vez mais lucro, e um dos artfícios administrativos mais frequentemente usados é a dispensa de milhares e milhares de funcionários, a temível redução do overhead ou downsizing.  Ou seja, paradoxalmente, os fundos, que visam proteger o futuro dos seus milhares contribuintes, achatam a realidade de outros milhares de pessoas, em diversos países. Sendo que os prejudicados são sempre mais do que os beneficiados.

Há também a questão saúde. Vivo no país que se orgulha de ter o melhor sistema de saúde do mundo. Disso não sei. Verdade que muitos dos melhores hospitais do mundo cá estão, porém, até dizer que o sistema como um todo é bom, acho prá lá de otimista. Uma recente resenha dos 50 melhores hospitais americanos, em dezenas de categorias, revelou uma triste realidade. Dos 4900 e poucos hospitais classificados, somente 130 e pouco foram incluídos no top 50 em uma ou outra categoria. Ou seja, cair num hospital rural em South Dakota ou em Detroit pode ser tão perigoso quanto ser tratado em um hospital mediano brasileiro.

Sem contar que aqui qualquer médico meia boca se acha qualificado para cobrar 300 dólares ou mais por uma consulteca de 10 minutos. Isto depois de ter passado três horas na sala de espera cheia. E depois os médicos dizem que não estão ganhando grana. Não entendo muito bem essa equação...

Voltemos ao fulcro da questão. Mesmo vivendo até os 100 anos, muita gente idosa dobra o Cabo da Boa Esperança aos 80 e pouco. Isto se for de uma classe social mais abastada, pois os mais pobres, se chegarem aos 80, passarão anos terríveis.

Hospitais como lugares de cura são uma coisa nova na história da humanidade. Não é coincidência que até recentemente, a maioria das pessoas nascia em casa, pois hospitais eram lugares onde o gajo ia morrer, nas casas, nasciam. Os hospitais eram os purgatórios dos cemitérios. Sim, hoje em dia a medicina fez muitos avanços, porém, a partir de uma certa idade, a pessoa é mantida viva quase sem nenhuma dignidade. Enquanto isso, os bolsos dos profissionais da saúde, e dos hospitais e laboratórios, engordam. O sistema, me parece, ainda é bastante darwiniano. Que morram os mais pobres mais rapidamente, assim deixam de onerar o governo com suas aposentadorias e seguros saúde!

Muito tem se falado sobre o tal Obamacare. Pessoalmente, até agora foi um desapontamento para mim, com certeza porque as seguradoras têm gente muito esperta trabalhando para elas, que souberam fazer a coisa. Meu seguro, que cobre duas pessoas, me custa a bagatela de US$1,057.00 por mês. E só paga o primeiro centavo de cobertura a partir dos primeiros 12.000 dólares de gastos acumulados, por ano. Sim, esta é a bela franquia, 12.000 dólares acumulados! Dado o histórico e saúde meu e de minha esposa (nunca chegamos perto de gastar isso num único ano), provavelmente vai demorar algum tempo para eu sentir um real benefício. E tudo isso, aparentemente, é legal. Juridicamente legal, óbvio.

Temos as pressões da globalização, da futura falta de água fresca, ao mesmo tempo em que aumentará o nível da água salgada dos mares.  Ou seja, melhor já ir comprando um lugarzim na montanha, ou nos planaltos, pois as praias sumirão em 30, 40 anos, dizem uns. Uns também dizem que estamos com aumento global de temperatura, outros, que estamos numa pequena era glacial! Sem contar que os chineses podem resolver pular todos ao mesmo tempo e fazer o planeta tremer, e existe sempre a simpática ameaça dos raios gama solares atingirem a Terra e fritar nossos aparelhos cibernéticos, etc. E do Fidel Castro ainda viver mais uns 40 anos.

Enfim, não vejo com olhos muito otimistas o mundo em 2060, quanto atingir a tal idade mágica. Para mim, a vida centenária me parece uma roubada, e de mágica, nada tem.

Saturday, February 15, 2014

O mundo e seus falsos - e verdadeiros - pioneiros e inventores

O mundo dos negócios está repleto de herois, como Bill Gates e Steve Jobs, considerados pelas massas como verdadeiros inventores, a la Edson, de coisas como o sistema operacional DOS e o iPhone. Não há dúvidas que por trás de tanto heroísmo existe muito exagero. Não vou dizer armação, pois acredito que o povo pensa o que pensa por que é, acima de tudo, bobo, ingênuo e mal informado.

Há muito que não existem mais inventores, pelo menos de itens complexos, no esquema do grande e prolífico Edson. As últimas grandes invenções são geralmente fruto de centenas, senão milhares de horas de pensamento e testes efetuados por dezenas, ás vezes mais, profissionais trabalhando em conjunto, com investimentos de milhões. Quase tudo relevante é feito ou aperfeiçoado por comitê.

Sendo assim, engolimos a mentira de que Gates inventou o Dos, quando na realidade, comprou esta programação básica do seu inventor há mais de trinta anos atrás. Teve o mérito de ter a visão, e também, de ter acesso à grana, e muita sorte aliada à competência. Daí soube continuar a investir, expandir, proteger-se, acabar com concorrentes e tornou a Microsoft no fenômeno atual. Não tenho ideia se sabe ou não programar um computador, porém, o certo é que não inventou o DOS que lhe trouxe tanta fortuna.

Assim é que Jobs não inventou iPhones, ipods, ipads, etc. Sim, em última análise foi um grande gênio de marketing, soube como colocar estes produtos no mercado, porém, é preciso ter muita ingenuidade para achar que os produtos da empresa que geriu (e da qual se afastou) durante muitos anos eram gerados por diversas horas passadas por Steve em laboratório, ou mesmo concebido.

Quando era garoto, logo me apaixonei por corridas de carro. Como muitos meninos com ávida imaginação, tinha meus próprios países e continentes, e neles, cidades, personagens, empresas e campeonatos de automobolismo. Cresci no Brasil, nos anos 60 e 70, quando as emissoras de TV, mesmo em São Paulo, não passavam de seis. Ou seja, ninguém pensava na época em TV segmentada. Pois no meu continente tinha, a TV dos Carros, emissora que transmitia somente corridas de carro, nada mais.

Eventualmente, quando a TV a cabo estourou, e a tecnologia permitiu a expansão do número de canais, começaram a surgir canais de todos os tipos. Nos EUA, surgiu o Speed Channel, cuja proposta inicial era idêntica à da minha TV dos Carros. Sou gênio? Não, óbvio, só tinha muita imaginação. e certamente, nunca tive acesso a grana para lançar um canal de TV.

Falando em TV, nos últimos dez anos surgiu o fenômeno da Reality TV. Alguns dizem que foi o BBB original, o tal holandês, a criar o gênero, outros que foram os canais segmentados, ou outros antigos programas desconhecidos que não vingaram. Atualmente, aqui nos EUA, você pode assistir a dúzias de programas sobre a realidade do dia a dia de prostitutas, advogados, operadores de empresas de guincho, policiais, médicos, enfermeiros, etc.

Curiosamente, ao ler um exemplar recente da revista em quadrinhos "Disney Anni d`Oro", uma das revistas do grupo Disney editadas na Itália, me choquei ao descobrir que uma historinha com o Pato Donald, publicada na revista Topolino n. 1388, de 1982, descreve exatamente o que viriam a ser os reality shows de um futuro próximo. Na história "Paperino e la Serie Televisiva" (não sei se foi ou não editada no Brasil) um diretor de TV vê o Pato Donald sofrendo com sua vida, e decide fazer um "reality" com o pato. Não vou contar o resto da história, exceto que o tal show foi ao ar, e virou um grande sucesso, e um belo dia...

Quem diria...