Monday, July 21, 2014

Conhecer ídolos pessoalmente...será que é uma boa idéia?

Quem me conhece sabe que sou vidrado pela banda de rock progressivo Yes. Há mais de quarenta anos, com diversas formações diferentes, os caras continuam a manter um padrão excelente de musicalidade. Uma das razões que mais me fascinam nesse grupo é que não consigo tocar quase nada do seu material mais antigo, de tão complexo. Não que eu seja um grande músico, longe disso. Mas a realidade é, se consigo tocar quase igual ao arranjo de um disco, perco grande parte do meu respeito pelo músico. Ou seja, o cara é tão mequetrefe quanto eu... 

Outro dia quase enfartei quando descobri que não somente o Yes estaria tocando bem próximo de onde moro, como ainda por cima, tocariam meu álbum predileto da banda, "Close to the edge", na íntegra, além do "Fragile", meu segundo álbum favorito. Fizeram um show parecido quando estava no Brasil háum ano atrás, porém, não pude vê-los. 

É bem verdade que Rick Wakeman e Jon Anderson, dois dos grandes membros da banda, não estão na formação atual. Porém, o cantor atual tem uma voz parecida, e Geoff Downes é um bom tecladista. Bem melhor do que não ver o Yes pelo menos mais uma vez.

Quando fui comprar os ingressos, acabei caindo na página da banda, que oferecia um pacote que permitia conhecer os músicos.

Por um curto momento, me perguntei, será que vale a pena?

A resposta veio logo. Não vale.

Não sou mais nenhum frango, e nos meus cinquenta e poucos anos, tive a oportunidade de conhecer alguns "ídolos" pessoalmente. Francamente, para quem nutre o sonho de conhecer "x" ou "y", digo-lhes, desfaça-se logo desse sonho.

Um amigo me perguntou se queria que lhe apresentasse um piloto que era amigo seu, e que ele sabe, aprecio muito e não conheço pessoalmente. Mas já me avisou, de antemão, que "o cara é chato!". Logo desisti da empreitada, e continuo a apreciar seus feitos na pista. Ele lá, e eu aqui. Bem longe.

Fiquei pensando. Vou lá, pago uma grana para ir falar pro cara que amo sua música desde que sou guri, etc, enquanto ele tenta dar atenção para trezentas outras pessoas ao mesmo tempo que estão falando a mesma coisa, e nem vai se lembrar quem sou. Meu amigo, sei que não vai se tornar. E tampouco vai se importar com minhas "fabulosas" tiradas sobre passagens das músicas prediletas!!! Sem contar que provavelmente estarão mais interessados nas tietes do sexo oposto...Ou seja, pagação de mico.

Para a banda é ótimo. Enchem o bolso com uma grana a mais, numa das suas últimas tours. Para o público, provavelmente fonte de desilusão...

Prefiro que fiquem rodando na minha mente os trechos magníficos da sua obra, e que os "ídolos" fiquem onde estão. Eles lá, bem longe, e eu aqui.  


Friday, July 18, 2014

Quantidade x qualidade

É praticamente impossível encontrar um comercial ou anúncio da Rolls Royce. Não vou dizer que visualmente são meus carros prediletos, porém, é inegável a qualidade dos bichos. Numa era em que o popular é frequentemente o mais relevante, pelo menos é assim que os motores de busca qualificam as coisas, qualidade intrínseca fical difícil achar. O que não significa que ela não exista, ou que frequentemente não acaba superando a mediocridade. Olhe lá, digo isso sendo um dos maiores críticos da suposta meritocracia. Porém, popularidade e pré-julgamentos preponderam até mesmo no julgamento de qualidade.

Quando Ayrton Senna morreu o número de pilotos brasileiros em atividade no exterior ainda era relativamente pequeno. É verdade que há diversos fatores por trás disso. Entre outras coisas, cabe lembrar que o Brasil começava a entrar numa fase de inflação baixa pela primeira vez em muitos anos, e câmbio estável. Porém, depois da morte de Senna, o número de pilotos brasileiros no exterior aumentou sobremaneira, chegando a exceder a centena no seu auge. De fato, a certa altura dos acontecimentos só na Fórmula Indy eram 10, chegamos a ter mais de 6 na Fórmula 3000, além de pilotos em séries locais e regionais nos Estados Unidos, México, Japão, Austrália, Argentina, Alemanha, Itália, França, Inglaterra. Até mesmo na Índia tivemos um representante!

Apesar desse enxame de pilotos, não apareceu, nos vinte anos desde a morte de Senna, um substituto à sua altura, e, de fato, hoje só temos um piloto na F1 e dois na Indy. A quantidade acabou caindo, sem que a qualidade tenha melhorado.

Algo semelhante ocorre com o futebol. Não se enganem, futebolistas brasileiros no exterior já existiam desde os anos 50. Embora nenhum jogador das nossas seleções de 58, 62 e 70 atuasse no exterior na época dessas Copas, a grande maioria dos jogadores da Copa de 58 acabou jogando pelo menos um ano fora, muitos no México, depois do grande evento. Porém, os nossos jogadores lá fora eram poucos até os anos 80. O mercado da bola mudou, e hoje há um número incrível de jogadores brasileiros em quase todas praças futebolísticas do mundo.

Ocorre um efeito curioso no futebol, que parece copiar a cartilha do automobilismo. A quantidade aumentou estupidamente, porém, a qualidade é desejável. Sim, o sonho de todos é encontrar um novo Pelé no Brasil, ou pelo menos um novo Ronalducho, assim como o sonho era encontrar um novo Senna. E assim como centenas de pais enterraram verdadeiras fortunas financiando mal sucedidas carreiras de filhos no automobilismo no exterior, há algumas dúzias de fundos de investimento que fazem exatamente a mesma coisa com as carreiras dos jogadores brasileiros. Sem contar uma outra meia dúzia de empresários, advogados e consultores, que parecem "estar em todas".

A grande quantidade de jogadores brasileiros atuando fora nos dá uma noção errada de que ainda somos o país da bola, assim como o grande número de pilotos em dezenas de categorias mundo afora nutria a ideia de que éramos um país de Sennas até alguns anos atrás. A grande quantidade não resultou em excelente qualidade em nenhuma das duas disciplinas.

Para quem já viu contratos de jogadores profissionais brasileiros na Europa, como eu, chega-se à conclusão de que há muita ilusão no meio do nebuloso negócio da bola. Os jornais estão cheios de notícias de contratações de jogadores brasileiros, indicando cifras notáveis, porém, esquecem (ou não sabem) que tais contratos geralmente estão repletos de complicadas cláusulas de desempenho. O jogador tem o POTENCIAL de ganhar milhões por ano. Isto se jogar sempre, e jogos inteiros. Se jogar "x" minutos, ganha uma porcentagem pequena. Se o time não ganhar títulos, o cara fica a ver navios. Sem contar multas para tudo. Se o atleta se machucar, fica ganhando somente o salário fixo, que muitas vezes não passa de 10.000 euros por mês. Um contrato que tive a oportunidade de inspecionar, de um atleta atuante na Rússia, EXIGIA que o atleta aprendesse russo, caso contrário, o contrato podia ser desfeito! Ou seja, os contratos são cheios de "pegadinhas".

Quem ganha com a coisa são, de fato, aquela mesma meia dúzia de fundos de investimentos, empresários, middlemen, advogados e consultores que aparentam estar "em todas", na venda, frequentemente precipitada, dos contratos dos jogadores. Muitos desses jogadores, frequentemente jovens que dois ou três anos moravam na favela e são de origem humilde, voltam para o Brasil desiludidos, ou acabam se embrenhando por praças menos conhecidas ainda. Alguns conseguem refazer a carreira no Brasil, outros não.

O ponto é que eventualmente, quem paga a conta (nesse caso, os times no exterior) acaba se enchendo com a enxurrada de pernas de pau exportada pelo Brasil. Há muitos jogadores indo jogar lá fora que não são grande coisa. Os times, que pagam pelos seus passes, eventualmente podem achar melhores negócios em outros países das Américas, África e Leste Europeu. De fato, na mesma forma que no automobilismo, hoje há um número muito maior de países de origem de futebolistas de qualidade. Até mesmo muitos jogadores da Ásia participantes da Copa atuam na Europa.

Ou seja, se a situação do futebol seguir a do automobilismo, o futuro nos reserva uma surpresa negativa.

Tuesday, July 15, 2014

A seleção brasileira e Detroit - um semi paralelo curioso

Embora os americanos não tenham inventado o carro, a verdade é que, em poucos anos, o país passou a dominar a fabricação de automóveis, que eram exportados para o mundo inteiro. O grande segredo dos americanos foi a criação da técnica de fabricação em massa, desenvolvida pela Ford e logo adotada pelas outras montadoras locais. Embora os europeus também tivessem diversos fabricantes, eram os carros, caminhões e ônibus americanos que faziam sucesso mundo afora.

Veio a segunda guerra mundial, devidamente ganha pelos aliados. De fato, estes só tomaram a dianteira com a entrada dos americanos, que além de contribuir muito pessoal, colocou á disposição das forças anti-Hitler todo poderio industrial americano, inclusive a indústria automobilística. A cidade de Detroit era orgulhosamente chamada de capital mundial do automóvel nessa época.

Após a guerra, os EUA, e sua indústria automotiva, continuaram a dominar mundialmente. Sou suficientemente velho para lembrar que os imensos carros americanos ainda eram o sonho de consumo de todo brasileiro, apesar da nascente indústria automobilística local, e sinônimo de qualidade. E cabe notar que no pós guerra, um dos perdedores da guerra, o Japão, nem tinha indústria automobilística.

Veio o Marshall Plan, e os anos 60, e aí algo curioso aconteceu. À mesma medida que a indústria automotiva crescia no Japão, a americana dava sinais de desgaste. À mesma medida que a qualidade dos carros japoneses aumentava, as grandes 4 montadores americanas colocavam nas ruas um projeto pior que o outro. Num curto espaço de vinte anos, os japoneses, que mal fabricavam carros nos anos 50, foram obtendo fatias cada vez maiores não só do mercado americano, mas mundial, com o keiratsu, just-in-time, e diversas outras técnicas industriais inventadas pelos engenhosos nipônicos. Ganhavam na quantidade e na qualidade.

Eventualmente, o setor automobilístico americano teve que encarar o óbvio - suas técnicas eram ultrapassadas, os produtos também, e a qualidade precisava melhorar, e muito. Um sinal do claro déclínio da outrora grandiosa indústria foi o constante colapso da cidade de Detroit, que recentemente inclusive declarou falência.

Os americanos tiveram que pedir arrego, e para sobreviver, engolir o orgulho de outrora hegemônico gigante e implementar o keiratsu, o just in time e as técnicas de controle de qualidade dos japoneses, pois o modelo americano se exaurira.

Hoje o setor sobrevive, apesar da quase hecatombe ocorrida em 2008, mas está longe de ser saudável.

Temos aqui um semi-paralelo. Digo semi por que, afinal de contas, o futebol nasceu na Europa, já era praticado antes naquele continente antes de vir para o Brasil. E antes do Brasil ganhar seu primeiro título mundial, a Itália e Alemanha já tinham ganho seus primeiros títulos.

Porém, nos últimos cinquenta anos, o futebol brasileiro foi considerado exemplo para o mundo inteiro. Padrões de jogo, habilidade e qualidade dos jogadores, com uma geração de craques após a outra, muitos dos quais foram jogar no exterior, maravilhando torcedores em todos os continentes. E agora a indústria do futebol brasileiro se vê na mesma situação de Detroit nos anos 70, 80. Obviamente alguém melhorou MUITO, enquanto nós pioramos MUITO. E precisamos engolir o orgulho, e obter ajuda. De fora.

Senão o futuro do nosso futebol é o mesmo da cidade de Detroit.      

Saturday, July 12, 2014

Noções

Com essa desastrosa atuação do Brasil, algumas coisas foram aprendidas. Algumas noções têm que ser repensadas e mudadas.

Primeiro, obviamente, o fator CASA não foi benéfico para o Brasil. Não foi benéfico para o Brasil como não tem sido benéfico para muitos países nos últimos anos. De fato, a última seleção a ganhar a Copa sediando a mesma foi a França. É verdade que para a FIFA, isto é semi-desastroso, pois a noção de que é uma vantagem para um país sediar a Copa, em termos de colocação final, é certamente importante para convencer um país a gastar bilhões e ganhar muito pouco com a realização do evento, como foi o caso do Brasil. A Rússia que se cuide.

Diria que o principal fator que prejudica os países sede é justamente não participar das eliminatórias, e ter participação garantida. É o mínimo que a FIFA pode fazer para o país-sede, entretanto, obviamente prejudica. No caso do Brasil o problema tem sido histórico, exceto pelas Copas de 58 e 62. Sempre que tivemos participação garantida por ganhar a Copa, e nesta última Copa, por sediá-la, nos demos mal, com a exceção de 1998. Como o Brasil não participou das eliminatórias pré 98 e 2006, por ter ganho a Copa anterior, e pré 2014 por sediá-la fica óbvio que isto tem muito a ver.

Participar da eliminatória ajuda um time a ser formado e a ser competitivo. Os diversos amistosos e a meia-boca Copa das Confederações obviamente não ajudaram o Brasil. Sem contar o uso de dois técnicos com visões obviamente diferentes e dúzias de jogadores, muitos dos quais ninguém esperava ser convocados para a Copa.

Sendo assim, há uma certa luz no fundo do túnel. O próximo técnico terá uma fase classificatória pela frente, e se montar um time que não joga em função de Neymar, o Brasil pode ser apresentar bem na Rússia.

Diria inclusive que o Brasil deveria parar de convocar tantos jogadores que atuam no exterior. Além do salto alto, na realidade, alguns dos "estrangeiros" não são muito talentosos. Exemplo, Hulk. Fiquei chocado em saber que este jogador, que consegue me dar saudades de Paulo Cesar Caju e Denilson, outros dois fanfarrões, ganha 2 milhões de reais por mês! Não se trata de inveja de alguém que ganha menos. Se fosse um Ademir da Guia, um Dirceu Lopes, um Edu, jogadores que eram excepcionais, porém nunca ganharam fortunas, não acharia nada errado. Porém, Hulk não demonstrou ter muito talento e não foi eficaz. Quem sabe jogue melhor no seu time, porém, para mim merece uns 20.000 reais por mês e olhe lá...

Acho que seria preferível o Brasil montar uma equipe com jogadores locais, embora treinados com fundamentos alemães. Muitos dos nossos jogadores não são lá essa coisa, e além disso, atuam em diversos países diferentes. Imagino que as convocações sejam feitas com base em observações de olheiros - como o furado Gallo que recomendou a tática a ser usada pela Alemanha.

A noção, na realidade, verdade histórica de que nenhum time europeu ganha copa nas Américas parece prestes a cair por terra. Que me desculpem os argentinos, mas para mim a Alemanha é óbvia favorita, 70% contra 30% pelo menos.

Essa noção também tem sido útil para a FIFA. por uma razão óbvia, é muito menos custoso e mais fácil para torcedores europeus irem para uma Copa na Europa, assim como é menos custoso e mais fácil para os das Américas irem para uma Copa nas Américas. Se a quebra do tabú vai afetar o número de visitantes nas próximas Copas realizadas nesses continentes, fica a dúvida.

Portanto, esse mesma quebra de tabú é uma indicação de que as diversas teorias conspiratórias que veiculam no Facebook e internet em geral não passam de estória para boi dormir. Os brasileiros em geral são maus perdedores, e estas fábulas são um claro exemplo disso. A história Nike-Adidas é de morrer de rir. Para a FIFA, que tem que convencer governos a gastar bilhões, faria sentido o Brasil ganhar a Copa, e fazer crer que sediar a Copa é uma vantagem, do que manipular o resultado em favor da Alemanha! E também seria muito mais interessante ter uma final de americanos, e perpetuar o mito "europeu não ganha nas Américas".

Quem sabe esta realmente tenha sido a Copa das Copas, por derrubar tantos mitos ao mesmo tempo.

Friday, July 11, 2014

Decisões tomadas por misticismo dá nisso

Lembro-me que havia um músico brasileiro que, diziam, tocava com um falso percussionista no palco. Supostamente, o dito cujo era pai de santo, ou coisa do tipo, e sua presença ali era para dar sorte. Como o músico é baiano, poderia ser também parte da imagem do baiano nas artes, frequentemente alinhada com o candomblé e religiões afro-brasileiras. Sei lá eu se todos realmente seguem tais religiões, pelo menos um baiano indicou num livro que não era muito chegado hoje em dia e sabe-se lá desde quando largou sua paixão pelas religiões afro. Porém o fato é que fez muitas músicas com temas religiosos no curso da sua carreira, ele e diversos dos seus colegas.

Na realidade, no caso deste outro músico, devia ser papo, pois o tal percussionista toca muito bem percussão. Não estava ali só para "dar sorte", com certeza. Se é ou não pai de santo, aí é outra história.

Longe de mim querer iniciar celeumas religiosas, não é o ponto deste blog.

Entretanto, me parece que muitas decisões referentes a escolhas de técnicos para as seleções brasileiras nos últimos 20 anos foram tomadas com um embasamento mais místico do que propriamente técnico.

Muita gente adorava dizer que o Zagalo "dava sorte", por ter sido o único, além de Pelé a ter ganho três Copas, duas como ponta-esquerda e uma como técnico. Convém lembrar que alguns meses antes da Copa, o técnico ainda era João Saldanha, que, abertamente comunista, não caía bem para os militares que governavam o país.

Atribuir a vitória em 1970 à sorte de Zagalo seria uma blasfêmia, pois quem sabe, com aquele time, até eu como técnico teria ganho. E com os nove anos que tinha na época. Bastava dizer "vão jogar bola".

A sorte de Zagalo (cujo nome passou a ser gravao Zagallo mais tarde...) não ajudou muito em 1974, e ele dançou, continuando sua carreira de técnico. Porém, algum gênio resolveu chamá-lo como assistente de Parreira, para a Seleção que disputaria a Copa de 94. Cabe lembrar que em 1990 a fraquíssima seleção tinha atingido o fundo do poço e a Seleção precisava de reforços de todos os tipos.

Para alegria dos místicos, o Brasil ganhou a Copa de 1994. Pronto, surgia o único tetra da parada, nem Pelé tinha esse título. Sim, o sortudo Zagallo, com um ou dois L, era o cara, a energia positiva do time, o ímã de sorte do selecionado canarinho. Com ele no banco estávamos garantidos.

Portanto, não foi com muita surpresa que o técnico convocado para liderar o Brasil em 1998 tenha sido o próprio Mário Zagallo, o amuleto vivo da seleção. E não é que o Brasil chegou à final? Bom, chegar à final não significa ganhar. Sendo assim, pelo jeito as "energias" de Zagallo estavam se exaurindo com o passar do tempo e ele foi mandado para escanteio.

Daí a Seleção passou por uns maus bocados, com diversos técnicos, e quem acabou sendo chefão foi Scolari, o Felipão. Chefão e ganhou a Copa de 2002. Apesar deste sucesso, Scolari caiu fora, e foi ser técnico na Europa, encher o bolso de Euros.

Zagallo acabou virando assistente mais uma vez, entre 2003 e 2006. Quem sabe nos 4 anos fora tivesse recarregado suas energias sortudas? Porém, apesar de um elenco forte, o Brasil se deu mal em 2006.

Curiosamente, com tanto técnico no Brasil, a CBF resolve contratar o Dunga, um dos heróis do time de 1994, como técnico do time. Sim, o primeiro trabalho de Dunga como técnico foi na Seleção!!! Seria algo assim como dar um Fórmula 1 para um moleque de 18 anos que acabara de tirar a carteira (e nunca dirigiu carro ou kart). Não se falou nada sobre as virtudes sortudas de Dunga, porém, o teimoso gaúcho perseverou no comando do selecionado, e considerando que era estreante, não fez feio. Só não chegou nem perto das finais.

Imagino que a a mesma veia mística tenha levado à escolha de Felipe Scolari, que "deu sorte" em 2002. Independente de claros sinais de desgaste do técnico, em grande parte responsável pela queda do Palmeiras da série A do Campeonato Brasileiro. O Scolari já tinha visto melhores dias.

Certamente a escolha de Zagallo durante tantas Copas tinha um elemento de misticismo, pois o carioca há muito tempo não conquistava nada. Estaria no banco nas últimas só para dar sorte?

No final das contas, nem Zagallo, nem Dunga, e nem o Scolari de 2014 deram sorte.

Nosso País tem um número incrível de cursos universitários, alguns até engraçados. Porém, desconheço que haja algum curso para técnicos de futebol. Se o futebol for levado à sério daqui para frente, seria interessante criar um curso deste tipo, e deixar para trás os "professores" que assumem times logo após pendurar as chuteiras, com fraca teoria, péssimos conhecimentos táticos e uma boa dose de preguiça. Afinal de contas, se os times Classe A não se recusam a pagar até 700 mil por mês aos tais "professores" (coitados dos verdadeiros professores), para que se esforçar mais?

Infelizmente, tirar o futebol brasileiro da sarjeta vai requerer uma atitude diferente, inclusive eliminar o fator sorte como critério de escolha de treinadores.

Cartão das Lojas Marisa - como jogar dinheiro no lixo

Em uma recente e rápida passagem pela cidade de São Paulo, minha esposa e eu passeávamos faceiramente na Rua Augusta, e ela, por incrível que pareça, viu algo que gostou na Lojas Marisa, uma cadeia que sempre detestou. Entramos na loja e ela resolveu comprar o artigo.

Fomos pagar, e aí a gentil caixa nos ofereceu o cartão da loja, com 10% de desconto. Disse que não, ela simpaticamente insistiu, e embora já tivesse tido problemas com um cartão de loja nos EUA, aceitei. Duas outras mocinhas, uma simpática, e a outra não tanto, nos atenderam num outro setor, o do crédito. Ficaram muito tempo conosco, parecia que eu estava comprando uma casa. Garantiram que tudo sairia "nos conformes".

Como não moro no Brasil, a conta iria para a casa da minha sogra. Esta nunca chegou. Por sorte, minha esposa teve que passar por SP novamente, um mês depois, por questões de doença na família, e resolveu ir na loja e pagar a conta que não chegava. Lá descobriu que apesar da demora para finalizar o cadastro, a "especialista em crédito" tinha anotado um endereço inexistente!!! Esta foi, obviamente, a razão de não receber a fatura.

Pois bem. Fatura paga, recibo na mão, papo encerrado. Adeus, Lojas Marisa.

E as Lojas Marisa continuam a ligar para a casa da minha sogra. Resolvi entrar no site, e enviei um email explicando toda situação. Nunca recebi resposta. Julguei o caso por encerrado.

E as Lojas Marisa continuam a ligar para a casa da minha sogra, ameaçando colocar meu nome no Serasa. Fizemos uma ligação, e uma gentil atendente ouviu o que tinha dizer. Ouviu, porém, acho que não compreendeu, ou fingiu que não entendeu. Disse que por ter sido paga com atraso, encargos no valor de 26,65 reais incidiam na fatura anterior, que fora paga. Ou seja, lá se foi pela janela o propalado desconto. Expliquei-lhe, mais uma vez, que quem tinha anotado o endereço errado fora a representante das Lojas Marisa.

Como uma autômata, continuou a falar enquanto eu falava. Disse que a culpa não era dela, etc e tal. Ora, sabia que a culpa não era dela, porém, se ela estava ali para me atender, resolver o problema, que me atendesse.

Daí a burra (só posso me referir a ela desta forma) me disse que eu poderia pagar no Banco Bradesco. Já tinha dito, mais de uma vez, que morava em Miami, e não ia ao Brasil com frequência. Cada coisa que lhe pedia, a resposta nada tinha a ver com a pergunta, parecia um papo de bêbados. Só ficou claro que quem estava errado era eu, e as Lojas Marisa, certa, apesar de todas evidências ao contrário. Detalhe, a tal fatura cobrando os encargos, após minha esposa pagar a primeira fatura e corrigir o endereço na loja, nunca fora enviada.

Por fim, já perdendo a paciência, pedi-lhe que me desse informações sobre como pagar pela internet, meu único recurso sem ter que alugar familiares ou amigos para pagar uma merreca de 27 reais. Ela me deixou esperando na linha, para piorar, com uma música horrível, que em vez de me acalmar, me deixou mais nervoso.

Daí voltou á carga. Deu o CNPJ e nome da administradora de cartões, um código. e disse que assim podia pagar na Internet!!!  

Desisti com tanta burrice e incompetência. A gentil moçoila (sua grande virtude foi continuar educada, apesar de eu ter semi-rodado a baiana umas duas vezes, para ver se chamava sua atenção) simplesmente se esquecera de dar o número da conta, ou mesmo indicar qual era o banco.

Enfim, nada resolvido.

Na pior da hipóteses, a Lojas Marisa treina muito mal as moças que trabalham tanto nas lojas ou nos SAC. Educadinhas elas são, incompetentes e burras também!! Em boa dose.

Resta saber se não tem rolo por trás. Pois aqui nos EUA aconteceu a mesma coisa com um cartão da GAP.

Será que o ponto da coisa não é justamente anotar um endereço inexistente, para recuperar o desconto e ainda ganhar um troco em cima?

Em suma, Lojas Marisa nunca mais.

Thursday, July 10, 2014

Algo a se pensar

Desde que Pelé se aposentou no futebol brasileiro, em 1974, com certeza centenas de milhares de rapazes tentaram fazer a sua marca no esporte, começando nas categorias de base. Alguns atingiram nível profissional, passando a vida jogando nas centenas de Ibis e Moto Clubes desta nossa terra, jogando até por arroz e feijão. Alguns poucos fizeram carreira decentes em times razoáveis, outros tantos em times grandes, e um número menor ainda atingiu fama. Alguns chegaram a estatura de ídolos, tornando-se ricos. Entretanto, nenhum chegou aos pés do Pelé.

Sei que não se trata de uma unanimidade. Alguns vão dizer que Garrincha jogava mais, que Zico era o cara, tem até música para o fraco Fio. Porém, se não vamos atingir o consenso numa base subjetiva, que seja objetiva. Ninguém marcou mais gols. Nenhum jogador ganhou três Copas como ele. Nenhum jogador fez um lance tão bonito, que não foi gol, mas o juiz ainda assim marcou o tento! Nenhum jogador fazia parar guerras quando chegava num país. Nenhum jogador jogava bem em todas as posições - até no gol Pelé jogou numa partida e não fez feio. Nenhum jogador era aplaudido por juízes, adversários e torcidas dos adversários, em todos os países onde pisava. Reis, Papas e Presidentes queriam conhecê-lo de perto. Nenhum negro era tão respeitado no Brasil nos anos 50, 60.

Sim, como pessoa pública Pelé já falou muita besteira, sobre uma série de assuntos. Todo homem público faz isso. Não é nenhum Einstein, e certamente, fora do futebol tem poucos talentos. Porém, é um poço de simpatia, sim, a simpatia é um dos seus talentos. Nas três vezes em que interagi pessoalmente com ele, me tratou muito bem, como se fosse meu amigo de infância. Continua a representar bem a imagem do Brasil aqui fora.

Não digo tudo isso por que sou torcedor do Santos. Digo isso por que Pelé foi, e é, sem dúvida, o rei do futebol mundial e merece respeito, apesar da opinião dos despeitados Maradonas.

Quando ocorreu a primeira Copa no Brasil, Pelé tinha meros nove anos, e morava longe de qualquer cidade onde foram realizados jogos. Estava a muita distância do Maracanã naquele fatídico dia do Maracanazo. Foi uma realidade bem distante do Edson Arantes do Nascimento, a Copa de 1950.

Nesta Copa de 2014, um dos grandes heróis do Brasil já é um senhor. Não vive mais da bola, mas de sua imagem. E se o Brasil estivesse na final, e ganhasse a Copa, lá estaria Pelé no mesmo Maracanã de 1950.

Existe um pouco de justiça no fato do time ter se perdido naquele final de tarde de uma terça-feira. Isto porque, a meu ver houve um grande desrespeito. Enquanto o Brasil ia se aproximando do hexa, alguém resolveu que era hora de colocar o condenado filho do grande jogador, Edinho, na cadeia.

Não vou entrar nos méritos da culpa ou não de Edinho, até por que não segui o processo, não sei detalhes e não posso, e nem devo, me manifestar sobre o assunto. Só sei que poderiam ter esperado para colocar o filho do grande jogador numa cela comum. Podiam esperar duas, três semanas. Não havia tanta premência assim para tirar Edinho da sociedade durante Copa, afinal de contas, ele não cometeu nenhum hediondo crime de sangue.

Houve um grande desrespeito com a pessoa do herói nacional Pelé, isso sim. Alguém que não gosta muito de futebol, do Santos, do Pelé, ou quem sabe outra razão pior ainda, de cunho pessoal, alguém quis aparecer.

Daí digo que houve uma certa justiça na nossa derrota, pois agora Pelé não terá que fazer o papel constrangedor de comparecer ao Maracanã, risonho, no domingo, para comemorar uma possível vitória do Brasil. Se quiser, pode ficar tranquilo em casa, chorando o destino do filho.

Nesse ponto, o 7 x 1 foi um bálsamo.  

O país que não sabe honrar seus heróis não merece muitas conquistas.

Sunday, July 6, 2014

Hora de fazer algumas mudanças

Vou ser sincero. Nunca engoli a vitória do Brasil na Copa de 94. Foi uma vitória meia-boca. Essa coisa de ganhar nos pênaltis nunca me agradou. Tenho certeza de que foi o trauma da decisão por pênaltis do campeonato paulista de 1973, que me crriou esta aversão, aprofundada com a nossa Copa meia-boca - de longe a mais fraca conquista do Brasil em Copas, que me desculpe o Ilmo. Sr. Dr. Deputado Romário e Cia Limitada.

Sendo assim, haja vista a proliferação de decisões por pênaltis nesta Copa (uma das quais inclusive favoreceu o Brasil), acho que já é hora de acabar com esta palhaçada. Para mim, decisões por pênaltis são tão "emocionantes" quanto o uso de safety car e pitstops na F1.

Isto posto, tenho algumas sugestões, que muitos vão achar horrríveis, coisa de louco que nunca jogou futebol, etc. Divirtam-se.

Primeiro, nada de decisão por pênaltis. Chega. Encheu! Há no banco um plantel completo de jogadores. Que se expanda as prorrogações até alguém marcar, permitindo quantas alterações forem necessárias durante as prorrogações (inclusive volta de jogadores descansados). Sendo assim, acaba com certeza vencendo o plantel mais forte e melhor preparado. Com morte súbita. Alguns hão de dizer, um jogo de futebol não pode ir além de 150 minutos, tem a TV, etc. Para começo de conversa, a lenga-lenga dos pênaltis toma quase meia hora, portanto, o argumento temporal é falho.

Em outras palavras, decisões por pênaltis não provam nada. Estudem a carreira de diversos jogadores importantes, e verão que pênalti não é gol certo, muitos jogadores, inclusive o Neymar e Pelé, já perderam pencas de pênaltis. Infelizmente, é bem capaz que esta Copa seja, novamente, decidida desta forma.

Segundo, uma proposta controversa. Meio gol por bola na trave! Ok, o gol, o objetivo do futebol é a bola dentro, etc. Em tese, há muito mais área dentro do gol do que superfície de trave, portanto, alguns poderiam achar que acertar a trave é mais difícil. Convém notar que para acertar dentro do gol, o jogador tem que mirar na trave. sendo assim, a bola na trave não é falta de habilidade, e sim, boa pontaria, tem que valer algo. Óbvio que se eventualmente a bola entrar após bater na trave, o meio ponto não vale. Para não usar metades, o gol pode valer dois pontos, a bola na trave um ponto, assim não teremos scores esquisitos como 3,5 x 2,5.  

Chega de impedimento. Sei que o impedimento supostamente existe para coibir a retranca, blá-blá-blá, mas na realidade, este artifício cria retranca na forma de um feio jogo embolado no meio de campo, com chutões e paradas a cada dois minutos. Se for para embolar, que se embole nas áreas, é muito mais divertido (e podem ocorrer pênaltis, que durante o jogo são emocionantes). Ontem tanto a Costa Rica quanto a Argentina abusaram do impedimento, e o resultado foi uma quarta de final com pouquíssimos gols. Na realidade, o Brasil com seu pífio ataque foi o artilheiro das quartas de final, com dois gols (marcados por zagueiros)!

Sim, estou propondo uma revolução. Os tradicionalistas vão querer me mandar para forca. Porém, convém lembrar que antigamente não se admitiam substituições em jogos, hoje aceita-se. Para os puristas na época, a substiuição era coisa de louco, coisa de maricas, homem viril joga até morrer!

Se for para mudar o espetáculo, que seja com um verdadeiro show, não com artifícios ou tintas para marcar a linha da barreira.

Friday, July 4, 2014

A Copa Inganhável

Considere a Grécia. O time helênico, sem grandes tradições futebolísticas, entrou na Copa e inclusive avançou para a segunda fase, e quase para a terceira. Acabou caindo, mas se você falar com o mais humilde dos gregos, isto não interessa. Hoje um dos países mais pobres da União Europeia, e economicamente inviável exceto pelo turismo, o grego tem uma grande auto-estima, orgulho da sua milenar civilização cujos efeitos sentimos até hoje, nos idiomas, filosofia, política, ciências, direito, arquitetura. Sem contar os jogos olímpicos e uma razoável extensão territorial obtida por Alexandre, o Grande.

Considere nosso Brasil. Temos uma auto-estima frágil, afinal de contas, nossas contribuições para a humanidade têm sido notas de rodapé, em vez de estruturais. Sim, temos o samba e a bossa nova, a feijoada, a capirinha, o churrasco rodízio, a cueca como elemento de corrupção. Porém, apesar da insistência de que somos o país do inventor dos aviões, continuamos a ser exportadores de matéria prima e importadores de tecnologia (embora, curiosamente, um dos maiores produtores de aviões de passageiros seja a brasileira Embraer). Muito pouco se inventa ou desenvolve no Brasil, cuja trajetória econômica continua a ter seus altos e baixos.

Sendo assim, a auto-estima do povo do país, como um tudo, é muito fundamentada nos sucessos esportivos do país no âmbito mundial.

Já escrevi uma vez sobre o assunto, vai aqui um resumo. Não há nexo causal no que vou falar, certamente é uma coincidência das grandes. Até 1970, nossa auto-estima era 100% fundamentada no futebol, consolidada com no tri da Copa de 70. No final do ano, um piloto brasileiro ganhou seu primeiro GP, e este mesmo piloto, Emerson Fittipaldi, acabou ganhando os títulos mundiais de 72 e 74. Neste último ano, houve também uma Copa, na qual o país não se apresentou bem. E, de fato, do final de 1970 a 1994, nossa "auto-estima" teve que ser satisfeita com as vitórias de três pilotos no Mundial de F1, que resultaram em oito campeonatos ganhos. Daí veio a morte de Senna, e nossa auto-estima tomou um baque. Salvando a situação, o futebol que estava em franca decadência, conseguiu ganhar a Copa de 94. Trocaram-se os papeis. Em 98, fomos vice, em 2002, campeões novamente. Persistiu a auto-estima esportiva.

E na F1, passamos à mera condição de coadjuvantes.

Só que desde 2002 o futebol enfraqueceu. Sim, de vez em quando aparece algum novo craque que vai dominar o mundo, o Gaúcho, o Adriano, o Pato, o Nilmar, o Kaká, o Robinho, e agora o Neymar. Porém, a geração atual de riquíssimos futebolistas brasileiros é decididamente fraca, até por que, por razões quase análogas à F1, hoje muitos países contribuem times e pilotos de primeira, não somos mais o grande celeiro de esportistas.

O povo, certamente com auxílio do governo, trocou suas prioridades. Na falta de filosofia e influência linguística, passamos a acreditar que o Brasil estava na direção de se tornar um gigante econômico. Veio a crise de 2008, e para nós foi só uma "marolinha" enquanto o primeiro mundo se debatia com a possibilidade de falência. Um dos nossos se tornou o bilionário da hora, o gênio das finanças e dos negócios e poster boy da revista Forbes. Descobrimos o pré-sal, as instituições se fortaleceram (!), reduziu-se o número de miseráveis no país, o real chegou a ser considerado uma moeda semi-forte, o Brasil se tornou o celeiro do mundo, e de um golpe só, o país foi escolhido para sediar a Copa e as Olímpidas ...Enfim, a auto-estima esportiva cedeu a uma auto-estima mais madura, de um país que estava crescendo.

Algo (inevitável) ocorreu no meio do caminho e o objetivo deste post não é discutir os múltiplos detalhes. Porém, a pujança cedeu lugar a um sentimento de instabilidade, a alegria inicial em sediar a Copa se transformou em raiva, a inflação ronda rugindo, até o Mr. Forbes empobreceu. E nos esportes, continuamos fracos.

CABUM! Foi-se a auto-estima do brasileiro.

Hoje o Brasil joga contra a Colômbia, jogo decisivo, como são todos depois da fase inicial. A julgar pelas partidas anteriores, o Brasil vai sofrer para ganhar, se é que vai ganhar. Se ganhar e passar para a fase semi-final, vai continuar sofrendo. Ocorre que, para o país, apesar de seu humor ter "melhorado" por causa da Copa, ganhando ou perdendo a Copa a auto-estima do Brasil continuará em baixa.

Se ganharmos, por causa da aventada possibilidade de manipulação do resultado, ficará sempre a dúvida. Se perdermos, muitos dirão, EU SABIA. Ou seja, esta é uma Copa inganhável. E o país continuará  a ser um muro de lamentação. Sem filosofia, arquitetura, idioma, sem nada para se orgulhar.

Felizes são os gregos.

Tuesday, June 24, 2014

Algumas baboseiras sobre a copa etc e algumas coisas sérias

De repente, me lembrei dos idos de 1998, 1999. Naquela época, alguns esperavam o fim do mundo, o colapso total dos sistemas de informática, que não saberiam como passar de 1999 para 2000. O Y2K. Muito se falou - e se gastou - sobre o assunto. Apareceram especialistas de todos os lados, teve gente comprando comida, água, pilhas. Eu mesmo acabei traduzindo diversos planos de recuperação de bancos, caso houvesse o temido colapso. E de tanto ouvir falar sobre o assunto, fiquei semi-paranóico durante duas semanas. Na base do "yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay", resolvi - timidamente - começar a estocar comida. Minha primeira - e última - provisão foi um lote de 24 latas de milho. Acabei chamando-os de MILHÊNIO, e dei a maioria das latas para amigos, quando passou a paranoia.

O resultado, todos sabem. Não houve colapso de sistema bancário, financeiro, energético, nada. EM NENHUM LUGAR. Pelo jeito, era tudo uma grande armação.

Ser precavido é bom, porém, também é bom cheirar armação de longe.

Confesso que até eu achava que a Copa seria um desastre total no Brasil, que o país não estava preparado, o escambau a quatro. Pelo jeito, não houve tantos problemas quanto na Copa da África do Sul. Na hora H até os mais ávidos manifestantes estão com as TVs e computadores ligados nos jogos e colecionando figurinhas...

Sei que havia um ângulo político, e ainda há. Vai haver manipulação? Provavelmente. Houve roubo? Certamente. Não sou tão estúpido. Alguns hão de dizer que as coisas estão bem por causa da intervenção da heroína imprensa, tipo "se a imprensa não tivesse falado tanto, aí sim iria acontecer um desastre". Que me desculpe a imprensa, seria um pouco Chimentesco dizer que o sucesso da Copa, até agora, foi devido ao escrutínio do quarto poder. Se fosse para dar meleca, teria dado, com ou sem imprensa. Sem trocadilho, acho que uma prensa da FIFA foi mais vital do que milhares de artigos e programas que exaustivamente mostraram que a Copa seria um vexame. Convenhamos, no fim das contas, o que vale é dinheiro no bolso e paz. E ninguém quer ser processado pela FIFA, sediada ainda por cima na Suiça. A adimplência de contratos é o que contou para o resultado até agora bom.

Ok, não há trens balas, a pobreza ainda existe no país, nossos aeroportos não são Schiphol ou Miami, e, de modo geral, muito pouca gente ganhou dinheiro com a Copa. Ou vai ganhar. De fato, os jornais de hoje dizem que a criação de empregos formais neste mês de maio foi a menor para este mês nos últimos 22 anos!

Agora, francamente, um cara que mora no interior do Piauí ou Rondônia, ou em qualquer cidade que não seja sede da copa, não mexe com turismo, hotelaria, restaurantes, logística, mídia ou construção, nem gosta de futebol, ora bolas, o que esse cara achou que iria ganhar, em termos financeiros, com uma Copa do Mundo? O cara é encanador em Blumenau e achou iria ganhar grana com a Copa?

Acho que no fundo essa foi a bronca dos milhares que foram às ruas. CADÊ MINHA GRANA? Acharam que ia sobrar algo para eles, e quando não sobrou, ficaram uma vara, viraram blackblocks e sininhos!!!

Não se trata de defender o governo, ou qualquer partido político, até porque, quem me conhece sabe muito bem que sou apartidário. Entretanto, a linha geral de ataque CONTRA a Copa, que o dinheiro poderia ser usado na construção de hospitais e escolas, me parece um tanto falha, e vou explicar porque.

Primeiro, por que o valor é relativamente insignificante, considerando as grandes necessidades do Brasil. É um fato. A carência do país nestas áreas (educação e saúde), provavelmente soma alguns trilhões de reais. Vejamos, por exemplo, as faustas e faraônicas aposentadorias de um grande número de servidores públicos (e am alguns casos, filhas de servidores públicos mortos há décadas, não casadas). Este é um problema muito mais sério, constante, em expansão, estrutural, e não pontual, do que a Copa. A Copa é pinto, em termos das fortunas que são gastas com estes exagerados benefícios.  Que me desculpem os beneficiados...

Segundo, tratar tal evento como completamente supérfluo é um precedente perigoso, que poderia levar ao raciocínio de que todo e qualquer evento esportivo, artístico ou cultural é supérfluo. Afinal de contas, isonomia é boa, a faz bem. Obviamente, aqueles que gostam de artes plásticas iriam chiar se o governo começasse a fechar museus, afinal de contas, precisamos de hospitais e escolas, museu é supérfluo. Vêm como o raciocínio é perigoso?

Muitos artistas andaram debandando a falar mal da Copa, frisando justamente a má alocação de fundos. Porém, salvo por Lobão, e provavelmente outros que desconheço, poucos artistas falam mal da Lei Rouanet, que direta ou indiretamente, reduz o fluxo de recursos para o governo ou os extrai, criando incentivos para patrocínio de eventos ou produtos culturais. Eu sou um cara da cultura. Porém, um sujeito como o Gilberto Gil, que inclusive já foi ministro, não precisa de recursos da Lei Rouanet para fazer um show!!! Não tenho ideia de quantos projetos já foram aprovados sob a égide desta lei, porém, imagino que devam ser milhares, alguns envolvendo recursos milionários.

Ou seja, em corporativismo puro, alguns artistas - que provavelmente não gostam de futebol, ou não querem admitir que gostam, ou querem Ibope - combatem o uso de bilhões na construção de estádios (que inclusive poderão ser usados para seus shows, no futuro...), porém, nada dizem quando pencas de artistas de renome abocanham verdadeiras fortunas de dinheiro público para fazer shows, sem contar o grande número de livros, CDs e DVDs financiados com tais recursos. Às vezes são shows mequetrefes e meia-boca, só com o artista, um violão, sua voz desafinada, nem banda contratam! E sabe-se lá se os fundos não terminam imobilizados em cimento e vidro em Paris, Nova Iorque, Miami...

Sem tirar o foco, se considerarmos uma Copa do Mundo supérflua, então, todo dinheiro público gasto em concertos, exibições, exposições, carnaval, e todo e qualquer evento esportivo é tão supérfluo quanto a Copa. E diga-se de passagem, na somatória, estes fundos provavelmente dão algumas Copas por ano! Vamos cancelar tudo então? (Cabe lembrar que quando uma empresa reduz sua carga tributária por patrocinar um evento ou produto cultural, o governo arrecada menos, tirando de circulação dinheiro que poderia ser gastu em hospitais ou escolas. Existe um custo, sim. Em síntese, é isso).

Enfim, temos aqui uma boa dose de hipocrisia, além de um faux elitismo. Dizem que rock and roll é 90% postura, 10% talento. Olha, não é só no rock. Muita gente se incomoda muito mais com sua postura do que conteúdo. Existe um povo no Brasil que se auto denomina eliteculturalformadordeopiniãogentefinadealtonível, e adora desdenhar do futebol, por exemplo, por ser "popular". E com a boca cheia, adoram dizer que têm uma visão mais "europeia" da vida. Pois bem, na Europa inteira os estádios ficam cheios, durma-se com um barulho destes! Europeu é doido por futebol! Essa afetação besta acaba sendo uma boa dose de ignorância do aspirante a elitista. Se não gosta de futebol, ótimo, agora, não vai querer se ufanar empombadamente de ser uma pessoa de um "nível cultural tão alto" que detesta este esporte (mas até aguenta o tênis e o golfe, esporte de gente mais fina. De novo a danada da postura).

Por fim, fico imaginando a tal copa em Catar. Nosso país tem dimensões continentais, e parte do problema tem sido exatamente esse, a distância entre as cidades sede. Agora, o Catar é minúsculo! Se construírem ez estádios no  "país", não vai sobrar espaço para ninguém viver ou circular. Ou será que vão connstruir um em cima do outro, em forma de veleiro?

E tenho dito.

Tuesday, June 17, 2014

Todo brasileiro é técnico de futebol, sou brasileiro, portanto....

Antes de mais nada, confesso que sou grosso em futebol, com G maiúsculo, e que a última vez que joguei algo parecido com uma partida de futebol inteira  faz mais de 25 anos. Entretanto, não me venham com essa argumentação de que não tenho capacidade para opinar sobre o assunto, devido à minha falta de experiência em campo.

Escrevo sobre automobilismo, e nunca corri. Muitos interlocutores que um dia já correram (que seja duas ou três corridas) se julgam mais capacitados para opinar sobre o esporte de modo geral, e cansam de dizer isso no facebook, foruns, etc, etc. É verdade que a experiência é importante para obter certas informações sobre qualquer faceta da atividade humana, mas nem todas. Além disso, muitas das mesmas pessoas que usam esse artifício no tocante ao esporte motor, se julgam capacitadas para opinar sobre política, sem nunca ter ocupado cargo político, sobre economia, sem saber quem foi Adam Smith, e sobre música, sem saber a diferença entre compasso, harmonia e tom, sem contar opiniões sobre religião, filosofia, ciência, negócios, etc. Isto não os impede de vociferar opiniões sobre tudo, sobre todos, com fortes doses de desconhecimento histórico de todos os assuntos. Inclusive história do automobilismo, no caso de alguns ex-efêmeros pilotos.

Isto posto, o que vou dizer aqui não requer nenhum conhecimento mais profundo de táticas e esquemas futebolísticos, visão de jogo, jogar sem bola, e tantas outras coisas que os especialistas adoram mencionar às pencas para diferenciar-se dos meros seres humanos "que nunca jogaram bola mesmo". Para chegar a certas conclusões, basta um pouco de raciocínio e sensatez. E creio ter ambos,.

Comprei um livro que contém as súmulas de todos os jogos do Santos, de 1912 a 2012. Já li milhares delas, e junto com meu razoável conhecimento histórico do nosso futebol, posso falar com autoridade sobre este tópico específico. No seu auge, o Santos contou com um plantel mais ou menos fixo durante anos. O técnico Lula esteve à frente do time durante mais de dez anos. Não era só Pelé que estava em todas, Zito, Lima, Pepe,  Mengálvio, Coutinho, Toninho Guerreiro, Edu, Clodoaldo, Carlos Alberto, Dorval, Gilmar, jogaram anos a fio juntos. Até mesmo alguns reservas como Douglas, Turcão, Oberdan, Pitico, Léo, fizeram parte do elenco durante muitos anos.

E isso não ocorria só com o Santos. O Botafogo do Rio, o Palmeiras, o São Paulo, o Cruzeiro, de fato, todos os grandes times conseguiam segurar seus melhores jogadores como Ademir da Guia, Jairzinho, Dudu, Rivellino. Dirceu Lopes, Zico e muitos outros coadjuvantes, durante diversas temporadas.

O nosso futebol é supostamente rico em talento, porém, falta-lhe o dinheiro. Sendo assim, hoje em dia um time contrata um jogador, se esforça para pagar 500 mil por mês, daí aparece um time da Europa e leva o cara embora com uma conversa mole. Sem contar a garotada das bases, levados às dúzias para times dos quatro cantos do mundo, e jogadores que adoram trocar de time dentro do Brasil a cada seis meses. Sendo assim, os ídolos dos times brasileiros, na atualidade, são passageiros. Muitos "ídolos" não ficam mais de um semestre nos grandes times do nosso Brasil, que têm que estar sempre improvisando, implorando jogadores emprestados, ou comprando "estrelas" por milhões com resultados questionáveis, como está sendo o caso de Leandro Damião no meu sofrido Santos.

Entretanto, há um time brasileiro que pode trabalhar com um elenco basicamente fixo durante quatro anos ou mais. E este é a Seleção brasileira.

O que se viu nos quatro anos de "preparo" para a copa foi um smosgarbord de jogadores de diversos matizes, procedências,  idades e experiência, basicamente sendo usados em jogos de pouca relevância, com exceção da Copa das Confederações. Ficou claro que o elenco atual simplesmente não se entende, e não poderia ser diferente. Os caras simplesmente não jogaram juntos suficientemente e muitos não jogam no Brasil há anos, mal se enfrentaram nos campos no Brasil, muito menos na Europa!

No passado, achava-se que o abundante talento dos jogadores brasileiros poderia superar até mesmo a falta de entrosamento. Porém, fica muito evidente não só com este elenco atual, mas com a geração inteira de futebolistas brasileiros, no quesito talento não somos mais aquela unanimidade dos anos 50 a 70. Há muito jogador mediano na seleção, quem sabe um ou outro semi perna de pau.

Na minha humilde opinião, se fosse determinada uma base de pelo menos 11 jogadores desde o começo da preparação, hoje teríamos um time entrosado. Agora, devemos esperar que o entrosamento ocorra em campo, num curtíssimo espaço de tempo.

Sendo assim, já que o erro está feito, só nos resta esperar que o fator casa conte, e que o Brasil supere seus óbvios problemas na raça, pois no entrosamento e talento estamos fritos.  

Wednesday, April 30, 2014

Disfunções da imprensa -bananas, NBAs e EBs

Entendo a lei da oferta e procura. Entendo que, com a internet, a imprensa, o jornalismo, assim como diversos outros setores, tiveram que se reinventar, correndo o perigo de tornarem-se redundantes. Sinto isso na pele, pois o setor de traduções foi um dos mais afetados pela revolução tecnológica. Afinal de contas, quando o google faz traduções de graça, é difícil você convencer alguém que pago é melhor, pois o google é o google, e é grátis.

Obviamente, o mesmo ocorreu com a imprensa, principalmente o jornalismo clássico, de jornais diários, com rotativas, distribuição em banca. Muitos jornais já se foram para o cemitério dos periódicos nos últimos anos, e alguns outros parecem seguir celeremente o mesmo caminho.

Tudo ficou muito bagunçado hoje em dia. O que era imprensa séria, há vinte anos atrás, hoje é obrigada a dar grande ênfase às novelas globais, BBBs e cada passo da Madonna, pois jornalismo virou entretenimento, entertainment puro. Há um grande jornal que não perde a oportunidade de colocar matérias na sua página principal sobre mamárias (câncer de mama, amamentação, etc) só para poder ilustrá-las com vistosas peitamas em flor. Isto num jornal que um dia foi considerado o mais influente do Brasil.

Sim, é a lei da oferta e procura. Poucos ainda continuam pagando pelo jornal em banca, menos ainda assinando na internet, e para chamar leitores online, e rezar que alguém clique nos anúncios, é preciso as peitamas, especulações sobre a calcinha da Lindsey Lohan (ou falta da mesma), sem contar com uma dose extra-forte de tudo que é fútil, e "da hora".

A imprensa, o jornalismo, diria, tem a função de reportar os acontecimentos, porém, também tem um componente proativo. E imagino que este componente proativo de informar tendências (econômicas, políticas, etc, estou falando de coisas sérias, do futuro da humanidade) se não se foi completamente pelos ares, está próximo de ir.

Todo tipo de racismo é sem dúvida lamentável, e deve ser relatado. Sinto isso na pele, afinal de contas, moro no exterior há 38 anos e sou objeto de preconceito de tudo que é lado. Além disso, sou surdo. Mesmo assim, achei um pouco desmedido o espaço que foi dado, tanto no Brasil como nos EUA, a dois eventos de racismo, os dois em esportes populares - o caso da banana no Dani Alves e do racismo declarado por um dono de um time de basquete da principal liga do mundo, a NBA. Fizeram bem os jornais de relatar os acontecimentos, porém, não se parou de falar no assunto, ao ponto que o Facebook de alguns dias atrás parecia o vale do Ribeira, de tanta banana. Chegou uma hora que ficou cansativo DEMAIS.

Nestes últimos dias estou lendo um livro sobre a derrocada das empresas X. Confesso que sempre olhei com um pouco de suspeita a rapidíssima inserção das jovens empresas no panteon dos gigantes mundiais, rankings de Forbes, etc. Sou diplomado em geologia, e sei um pouco das dificuldades tanto do ramo de mineração como petrolífero, sob um ponto de vista técnico. O que mais me supreendeu, entretanto, foi saber que o mesmo senhor que estava à frente destas empresas, tinha um histórico curioso no mundo dos negócios, num passado recente, e em diversos setores. As mesmas hiperbólicas alegações feitas por EB no caso das X, foram feitas na sua empresa de jipes e no caso da empresa de logística que seria a maior concorrente dos Correios em um par de anos. E o resultado das duas foi igual.

Não se trata de dizer que houve desonestidade, no strictu sensu, não acho que houve. Acredito que EB realmente cria em tudo que disse, tem doses cavalares de otimismo, muito carisma e sabe convencer. Sabe vender seu peixe como poucos. Além de ter outros atributos como boa aparência, eloquência, ter sido esportista bem sucedido, falar diversos idiomas e ter sido casado com uma modelo famosa. O problema não é EB. Ele fez o que todos nós fazemos diariamente ao sair de casa e ir para o trabalho, tentar vender nosso peixe.  

O que eu não entendo é como a imprensa, inclusive os supostos jornais "sérios" se deixou levar pelas dezenas, centenas de comunicados de imprensa, coletivas, comunicados de fatos relevantes, aparentemente sem qualquer filtro ou ponderação...Por que, se não me falha a minha memória, nenhum jornal ousava questionar em nada a meteórica ascenção do império X, lá por volta de 2006 a 2010, todo mundo batia palminhas, achava lindo, plausível e factível.

Não precisava ir muito longe. Seria saudável pelo menos alertar, dizer para as pessoas que tivessem cuidado, informar que alguns dos empreendimentos anteriores do Sr. EB não tinham alcançado tanto sucesso, trazer à tona uma discussão.  Não se trataria de esculhambar, de difamar o empresário, algo tão insidioso quanto o racismo, a meu ver. Porém, a função de alertar, de proatividade, parece que nossa imprensa não faz há já algum tempo. Limita-se a narrar os fatos quando a bomba explode.

Muita gente acabou perdendo dinheiro, o que é normal no mercado de capitais, até mesmo com empresas em franca atividade e de sucesso, porém, imagino que muita gente que não podia perder, o fez por falta de informação, omissão da imprensa.

Onde estava a imprensa em 2006, 2007? Por que ler um livro a posteriori não resolve muita coisa. Aliás, não resolve nada para quem perdeu as calças.  

Na realidade, na época provavelmente você teria teria muitos artigos ainda sendo escritos sobre as saltitantes peitamas de Janet Jackson no Superbowl, as capas da próxima Sexy, ou relatórios constantes sobre as desventuras de nossos futebolistas no Uzbequistão ou Farofistão. Ou seja, disfunção. Disfunção pura.

Wednesday, April 23, 2014

Pelo jeito, São Paulo paga o pato novamente

Amo patos. É o meu bicho predileto, e todos que me conhecem bem sabem disso. Acham estranho inicialmente, porém, eventualmente começam a postar patos no meu facebook, compram patos de borracha para mim no mundo inteiro, e descobrem que também gostam de patos.

Pagar o pato, entretanto, não é uma expressão legal. Não chega a ser pejorativa, pois quem paga o pato geralmente não é culpado de nada. Não tenho a mínima ideia de onde vem a noção de que pagar por um pato é uma coisa negativa. Eu pagaria por um pato sem qualquer reserva. Já se fosse pagar uma barata, aí seria pagar mico. Bom, estou complicando esta fauna toda.

Voltemos ao foco deste texto. São Paulo, tanto a cidade, como o Estado, estão acostumados a pagar o pato. Queiram ou não, é um fato histórico. Leiam muitos livros de história e economia, e chegarão à mesma conclusão.

Não sou dado a bairrismos baratos, portanto, não me acusem de bairrista. Nem tampouco estou acusando ninguém de nada. Só estou narrando os fatos - se podiam ser previstos, não tenho a mínima ideia.

Hoje uma colunista de um jornal paulistano disse que os hoteis da cidade estão um pouco desesperados com relação à Copa do Mundo. Não precisa ser Pascal para concluir que hoje SP tem o maior parque hoteleiro do país. Não só tem o maior número de quartos, como também a melhor qualidade, tendo suplantado o Rio de Janeiro nos anos 90.

Entretanto, os hoteleiros de SP estão bastante preocupados com sua taxa de ocupação durante a realização da Copa. Enquanto no Rio de Janeiro somente há algo como 8% de quartos disponíveis, mais de 60% da capacidade de SP ainda está sem reservas! Na realidade, a cidade é, de longe, a sede da Copa na pior situação. Justo a cidade que tem melhores condições de receber turistas às pencas!

Ocorre que, durante a Copa, os executivos, que geralmente enchem a cidade, em visitas a clientes, fornecedores ou feiras, simplesmente fugiram de SP! Entre outras coisas, os preços das passagens assustam, os hoteis também estão exagerando (têm lá sua culpa os hoteleiros) e o viajante internacional já está de sobreaviso que a já cara Pauliceia provavelmente ficará mais cara ainda durante o torneio futebolístico. Os executivos não foram substituídos por hordas de torcedores, afinal de contas, a cidade sediará um número relativamente pequeno de jogos. Imagino que muita gente esteja fazendo sua base no Rio de Janeiro, convenhamos, uma cidade mais bonita do que SP.

Isso não seria tudo. Enquanto os hoteis esiverem à míngua (e os restaurantes e outra infra estrutura de atendimento provavelmente, também estarão às moscas), o Aeroporto de Cumbica provavelmente estará entupido de gente chegando e fazendo conexões para Natal, Cuiabá, Manaus, etc. Isto porque a maioria dos voos internacionais que chegam no Brasil pousam em SP, e querendo ou não, a cidade deverá ser usada de hub.  O coitado do torcedor internacional que quiser seguir seu time em jogos em Manaus e depois em Porto Alegre vai sofrer. E provavelmente, passará por São Paulo.

Ou seja, o impacto econômico da Copa em SP provavelmente será negativo. Não se tratou de trocar seis por meia dúzia, e sim trocar seis por um. Um pato.

Monday, April 14, 2014

Perdeu o futebol

O que é o gol? Vem da palavra GOAL em inglês, que significa meta. Ou seja, um futebol sem gols é um futebol sem metas atingidas.

Fico feliz quando meu time marca muitos gols, principalmente durante um específico campeonato, por que atingiu metas. E foi assim com o Santos neste Campeonato Paulista, até encontrar o paredão do Ituano.

Não sou mau perdedor. Em última análise, o SFC perdeu o campeonato por que desperdiçou algumas chances nas duas partidas da final. Porém, no âmago da história, fica a vitória do futebol-paredão retranqueiro defensivo feio, sobre o futebol rápido, cheio de gols, metas atingidas. Em última análise, o Ituano foi mais eficaz  do que o Santos, ficando 580 minutos sem ser vazado. O SFC até encontrar o paredão tinha uma média de 3 gols (metas) atingidos por jogo.

A meu ver, quem sabe o primeiro a repensar seu estilo de jogo, infelizmente, seja o próprio Santos. É notório que o Brasileiro é muito mais difícil do que o Paulistão, tanto é que o fenômeno Neymar nunca fez nenhuma diferença nos campeonatos brasileiros, e no ano passado os paulistas deram vexame no Nacional. Seria o fim das linhas de ataque com três jogadores, e início de meio de campo embolado com cinco, a maioria volantes e um panaca sozinho lá na frente.

Gostaria que o Santos continuasse a jogar o futebol alegre dos primeiros meses do ano, porém, me parece que inicia uma nova era no futebol brasileiro. A era da parede. Uma pena.

Como bom perdedor, meus parabéns ao Ituano. Que faça uma boa série D do campeonato nacional e volte à obscuridade nos próximos anos.  

Thursday, April 10, 2014

Eu quero uma casa no campo

Quem não conhece a grande música de Zé Rodrix, interpretada de maneira tão magnífica por Elis Regina?

É bem possível que o pessoal da nova geração não conheça a música, ou não conheça a letra. De fato, é bem possível que logo a letra se torne completamente anacrônica.

Explico.

Há um trecho da canção, quem sabe, o mais conhecido e legal, que diz "onde possa levar meus amigos, meus discos e livros e nada mais". É para isso que o autor quer uma casa no campo.

Para a geração atual isto se reduziria a "onde possa levar meu tablet". Ou meu laptop ou smartphone.

Não sou avesso à modernidade. Trabalho com computadores há quase trinta anos, toco sintetizadores há 33, e meu carro é super-moderno. Estou cercado de aparelhos e softwares da hora. Minha aversão ao celular tem mais a ver com minha deficiência auditiva do que ódio à tecnologia. Não gosto de muita miniaturização por que tenho 10 de miopia, e outras "pias".

Raciocinemos. Discos já são uma coisa do passado há muito tempo. Foram substituídos por CDs. Demorei um pouco a engolir os CDs, porque, para mim, um LP era um evento. Lindas e imensas capas, encartes, sem contar o prazer de escolher na loja abarrotada de discos os álbuns que iriam consumir grande parte da minha exígua grana. Os CDs diminuíram um pouco a dimensão do evento (e dos encartes), e eventualmente a digitalização se tornou um tiro nos pés da indústria fonográfica. Hoje, lojas de CDs são poucas, e as existentes, contém pouco produto. Sim, você vai achar os lixos das Lady Gagas e Miley Cirus da vida, e basta. O prazer de mostrar uma estante cheia de LPs, ou mesmo de CDs, logo será uma coisa do passado, embora exista uma tentativa de ressuscitar os LPs. Hoje música, o consumo de música, é o consumo de arquivos digitais, seja online ou salvos no seu computador, tablet ou celular.

Livros...aqui nos Estados Unidos quase não existem mais livrarias. A Barnes and Noble, que quase monopolizou o mercado nos últimos 20 anos, agora começou a fechar suas lojas às pencas, visando competir tête-à-tête com a Amazon.com e vender pela internet. A proposta ainda é vender livros de papel, com capa, cola, e tinta. Não por muito tempo. Mais cedo, mais tarde, vão forçar a barra e fornecer a maioria dos livros somente em formato digital, algo que é facilitado pela plataforma da loja online. Sim, você ainda vai poder comprar açucarados ou bobos best-sellers nas suas versões em papel em super-mercados e farmácias, porém, o livro em papel corre o risco de ser o próximo mico-leão dourado neste país.

Os discos e livros do poema de Zé Rodrix estão se tornando quase exclusivamente digitais. Basta ter bastante memória no disco rígido,  ou um bom número de pen-drives, e tudo caberá numa caixinha.

Só que até mesmo os amigos estão se tornando digitais, quase exclusivamente digitais, devidamente classificados e catalogados nas listas de contatos de celulares e aplicativos, ou em redes sociais. Sim, as pessoas ainda se reúnem (porém, quando estão juntas não param de olhar seus dispositivos de comunicação, cabe notar), mas em grande parte nossos contatos são virtuais, curtos e superficiais.

Ou seja, a ideia de um grupo de amigos se descambar para o campo, para ouvir discos e ler livros, é algo tão antiquado quanto as termas romanas! Para que tudo isso, crie-se um APP legal, todo mundo se reune num chat e compartilha arquivos digitais, e ninguém tem que sair de casa!!!

Ainda bem que o Zé - e a Elis - se foram antes de ver esse dia chegar.

Thursday, April 3, 2014

Jaroleta

Considere a palavra badalhoca. Segundo um amigo, jornalista de mão cheia e autor de um livro de crônicas, o vocábulo significa algo assim como tranqueira. De fato, a palavra, de tão relevante, inspirou até uma crônica homônima. Já para outra pessoa, tão confiável quanto o escritor, badalhoca significaria aquele resíduo sólido que insiste em permanecer no término da cavidade retal, mesmo após criteriosa limpeza mecânica. Convenhamos, são duas definições bastante díspares e confundir uma badalhoca pode trazer sérios distúrbios à saúde.

Quanto à jaroleta, ouse perguntar ao google. O sabichão do mundo virtual não retorna sequer uma instância desta palavra no nosso idioma. Nota: pronuncia-se jaroleta com “r” curto, e não dois “rr”.  Entretanto, nos idos de 1974, surgiu verbalmente a jaroleta brasileira entre o nosso meio, os estudantes da oitava série do Colégio Macedo Soares em São Paulo, ao mesmo tempo em que se popularizava a palavra “panaca”, esta sim bastante difundida, embora um tanto boco-moca hoje em dia.

De uma coisa sei. Apesar de progidiosa criatividade, não fui eu o autor do termo no vernáculo. Além de arranjar apelidos para os colegas, naquela altura das coisas já tinha criado diversos países, um continente, centenas de pilotos, marcas de carros e empresas dos mais diversos setores, canais de televisão, times de futebol, cantores e músicos no meu próprio universo, além de compor diversas músicas, com começo, fim e meio. Até um mini samba-enredo.  Criatividade com uma propensão ao detalhe não me faltava, porém não fui eu o pai da jaroleta, que fique claro.

Tampouco sei o que significava. Alguns podem atribuir ao sonoro e silábico termo um significado fálico. Outros, mera interjeição. Porém, tinha lá a jaroleta algo de proibido, como muitas coisas eram no País. Parece-me, entretanto, que era um substantivo de significado assaz obscuro, mas certamente não era uma conjugação do verbo jaroletar, nem tampouco um adjetivo. Não era um nome próprio também. Mas a jaroleta entusiasmava a nossa imaginação.

Alguns filósofos gregos julgavam que palavras tinham vida própria, e vinham ao mundo captadas, descobertas por mentes iluminadas – advinhou, filósofos. Já eram corporativistas os platões de plantão, certamente teriam criado fartas pensões para eles mesmos, se pudessem. Certamente acho isto um exagero, principalmente num mundo em que neologismos e bordões dão à luz às pencas. Quem criou a jaroleta, portanto, não deve ter sido um gênio, porém, merece crédito. Sua criação não pode ficar fora do universo virtual.   

Não sei se algum antigo colega vai se lembrar da pseudo-elocução. Quem sabe, alguém até possa assumir a paternidade da expressão, com um orgulho alqaedista.


Para mim, resta somente fazer jus a esta simpática palavra, que um dia foi criada, repetida algumas vezes, teve uma existência efêmera e logo morreu uma morte pene-latina. Digo isso por que não teve a oportunidade de influenciar algumas dezenas de idiomas. Homenageio aqui a imaginação de um colega, provavelmente, próximo, que pariu a jaroleta. Viva a jaroleta.

Monday, March 10, 2014

O muro de Berlim realmente caiu?

A grande vitória de Ronald Reagan teria sido a queda do Muro de Berlim. Com este evento, selava-se a vitória definitiva do capitalismo sobre o comunismo.

De fato, desde então as duas Alemanhas se tornaram uma, os países satélite do Leste Europeu e a Polônia saíram do comunismo, e houve o desmantelamento da União Soviética. As repúblicas que formavam o império tornaram-se independentes da Rússia, que, ainda assim continuou a ser o maior país do mundo.

A Rússia meio que se tornou capitalista. Diversas empresas outrora estatais terminaram em mãos semi-privadas. Digo semi-privadas porque muitos dos novos donos da bola da era "capitalista" russa, já eram donos da bola na fase comunista. E o partidão ainda manda por lá.

Quanto à vitória do capitalismo sobre o comunismo, cabe lembrar que o país que mais cresce no mundo, a China, ainda é comunista! Sim, adotaram algumas estratégias e técnicas capitalistas, mas na essência ainda é uma economia central, com rígido controle de mídia, povo, etc. A diferença é que no caso da China, o setor privado terminou, em grande parte, nas mãos de competentes, no caso da Rússia de poderosos, não necessariamente competentes. Por isso a China cresce cada vez mais, e a Rússia procura seu papel no mundo, que não seja o de fornecedora de matérias primas como petróleo e minerais.

Ocorre que na mente dos russos, a União Soviética pode ter acabado, porém, os ex-países que a compunham, inclusive diversos -istão, Ucrânia, etc, ainda fazem parte senão da sua unidade geopolítica, da sua área de direto controle ou influência. Por isso, de vez em quando há problemas na Georgia, Chechnia, e agora na Ucrânia, e a Rússia intervém nestes países "independentes" como se ainda fossem parte da URSS.

Parece claro que na cabeça dos russos - e quem sabe dos próprios ex-países satélite - a União Soviética acabou no nome, foi simplesmente substituída por uma versão mais light, mas ainda existe.

A libertação dos países do Leste  Europeu tem sido festejada há anos, porém, não precisa ser Einstein para entender que de uma forma ou outra, estes ex-países comunistas criam certos desequilíbrios econômicos no resto da Europa, na Europa Ocidental.

Quanto ao comunismo, está longe de ser morto. A dicotomia ideológica existente nos anos 50 e 60 não é tão poderosa hoje, porém, ainda existe e cria problemas para ambos os lados da moeda.

O muro físico pode ter caído, mas o muro metafísico ainda continua. E como continua.

Saturday, February 22, 2014

Aquele que muito puxa, mais cedo, mais tarde, muito enche

Se você ainda não descobriu do que se trata, esta frase, humildemente concebida por mim, se refere a bajuladores. Portanto, depois de puxa e enche vem uma outra palavra, um substantivo. Não se trata de uma mera equação entre verbos. Use a imaginação.

Entre os comportamentos humanos patológicos, a bajulação está na minha lista entre os mais desprezíveis, pois geralmente vem acompanhado de uma série de outros comportamentos tão ruins ou piores, como a falsidade, traição, egoísmo, etc.

Por trás de cada elogio demasiadamente exagerado e mal colocado de um bajulador, vem um preço, que é devidamente registrado no livrinho mental do bajulador. Um dia, mais cedo, mais tarde, vem a cobrança, e a encheção começa. Em outras palavras, os elaborados elogios do bajulador se escondem por trás de um objetivo, sempre egoísta. Ele sempre quer algo do objeto da sua "admiração" excessiva.

Tomo a liberdade de imaginar que entre os grandes bajuladores da história da humanidade encontra-se um certo Judas Iscariotes. Não há lugar algum na Bíblia que diga isso, porém, é fácil imaginar que Judas, que acabou sendo mais conhecido pela personificação da traição, era um bajulador de marca maior. E tinha seus objetivos, que ao serem desafiados, abriram o caminho para sua magnum opus.

É fácil ver traços da personalidade de alguns discípulos de Jesus. Pedro era belicoso, cabeça dura, gostava de discutir. Tomé cheio de dúvidas, queria provas para tudo. Filipe era prático, Mateus lógico, João, amoroso. Os traços da personalidade de Judas Iscariotes me levam à conclusão de que era um bajulador.

De Judas, sabemos que era ele que cuidava da grana. Não só cuidava, como metia a mão de vez em quando. Como não era muito dinheiro, um belo dia Judas ficou injuriado quando um vidro de caríssimo perfume foi gasto para ungir Jesus. Para justificar sua indignação, quis dizer que o dinheiro do perfume poderia ser melhor usado em benefício dos pobres, se tivesse sido doado para o caixa sob seus cuidados. Na realidade, preocupava-se que a farta quantia estaria fora do seu controle, e não com os pobres. Foi aí que Judas decidiu que era hora de vender o seu bem mais valioso, o acesso pessoal a Jesus.

Como bom bajulador, Judas era dissimulado. Assim, quando Jesus declarou que um deles o trairia, Judas teve o descaramento de perguntar se era ele!!! Não só isso, quando o entregou às autoridades, Judas beijou Jesus na face para mostrar aos guardas quem deveria ser preso. De memória, acho que é o único beijo dado em Jesus por um dos apóstolos.

Ou seja, Judas era egoísta, tinha falsos motivos e ambições, era dissimulado, falso, e traidor. Todas marcas do bajulador de mão cheia que tenho encontrado nos meus 53 anos de vida. Isto me leva a crer que dentro do seu modus operandi estava a bajulação.

Um dia, o bajulador trai o bajulado, quando seus objetivos não são mais atingidos.

Não é à toa que a bajulação corre solta no mundo da política, dos altos negócios, das artes, de fato, em todo ambiente em que haja muito dinheiro, fama e poder.

Portanto, sempre que alguém te bajular, tome cuidado. A traição pode não estar distante.

Monday, February 17, 2014

As pressões desta era

Francamente, não vejo muita vantagem em viver além dos cem anos de idade. Muita gente hoje comemora isto, a extensão da longevidade, como uma conquista da ciência médica, porém, convém lembrar que como sempre ocorre nas últimas décadas, a lerda sociedade não acompanha o ritmo da ciência.

Hoje tenho 53, portanto, ainda faltariam 47 anos para chegar na idade mágica. Tenho dez graus de miopia e problemas auditivos nos dois ouvidos, portanto, salvo se a ciência médica colaborar, com a proverbial ajuda do bolso, teria uma velhice um tanto desprovida de benefícios sensoriais. E sabe-se lá o que mais.

Voltemos ao bolso. Provavelmente consigo trabalhar num ritmo próximo do meu atual até os 75 anos. Ou seja, teria uns 25 anos para desfrutar de descanso bem merecido. Agora, quem pagaria a conta da minha aposentadoria? Seria descanso mesmo, ou aporrinhação ad extremis?

Do jeito que estão indo as coisas, as aposentadorias públicas, se ainda existirem daqui há uma duas décadas, estarão bastante desprovidas do seu valor integral e serão pagas meio à toque de caixa, mais desvalorizadas do que o nosso surreal real. Certamente não vão dar para comprar muita coisa, se não forem completamente aniquiladas por algum governo banzai. Sendo assim, teria que viver, sem trabalhar (ou trabalhando pouco), da pouca aposentadoria e economias ganhas durante meus anos produtivos. Coitado de mim.

É bem possível que ocorra algum bom incidente de percurso, e de repente, possa desfrutar da idade de ouro, e não de idade de ourina. Porém, é preciso ser realista, acima de tudo. E a realidade é sombria, não só para mim, como para grande parte da humanidade.

Sim, a medicina alongou a expectativa de vida das pessoas, porém, embora muitas pessoas estejam durando até 100 e pouco, a grande maioria ainda continua bastante debilitada ao chegar nos 70 e poucos anos. A medicina não conseguiu aumentar tanto assim o vigor dos idosos. Há excessões, porém excessões sempre existiram, até na insalubre Idade Média. A esmagadora maioria não tem condições de trabalhar ao se tornar octogenário, e assim, tem que viver do que sobrou.

Outra coisa. A herança tem sido, há séculos, um dos maior propulsores de expansão econômica do mundo. Um bom empreendedor consegue multiplicar seu quinhão muitas vezes. Sim, há os gastões, que aniquilam verdadeiras fortunas em alguns anos. Porém, muitos dos self-made man do mundo na realidade, tiveram uma nada insubstancial ajuda de um imóvel aqui, uma fazenda acolá, e montaram seus impérios assim. O folclore nos diz que saíram do nada, porém, do nada não saíram. Oras, o que vai ocorrer quando as heranças começarem a ser herdadas, no atacado, por senhores de 70 anos, já sem o vigor para montar impérios? Parece cruel falar sobre este assunto, porém, não estou querendo ganhar concursos de popularidade com este post ou este blog.  

E há outras pressões. Pressão para obter níveis cada vez mais altos de educação, que significa ficar mais tempo na escola e entrar mais tarde no mercado de trabalho, e ao mesmo tempo pressão para se aposentar mais cedo, pois todos sonham em se aposentar mais cedo! A relação entre aposentados e contribuintes é crítica em diversos países, em grande parte por que os países trataram seus sistemas de seguro social como esquemas de Ponzi, e não deveria ser assim. Até o Brasil, sempre conhecido como um país de "jovens", será um país com muitos idosos daqui uns 20 e poucos anos, com cada vez menos jovens contribuindo.

Ou seja, há tanta coisa a festejar assim?

Esqueçamos os sistemas de aposentadoria oficiais, e concentremo-nos nos fundos de pensão. Estes administram verdadeiras fortunas, e estão, assim como todo mundo, em busca de investimentos que valham a pena. Sendo assim, trilhões de dólares são investidos por fundos de pensão em empresas de capital aberto e private equity no mundo inteiro. Estes fundos de pensão não querem ser acionistas só por causa da valorização ou prestígio das ações - buscam ganhos em forma de dividendos, e na realidade, forçam as empresas a dar lucros às vezes irreais, pois os fundos precisam de grana para pagar seus pensionistas, cada vez mais bufunfa. Sendo assim, estes fundos frequentemente forçam estas empresas a dar cada vez mais lucro, e um dos artfícios administrativos mais frequentemente usados é a dispensa de milhares e milhares de funcionários, a temível redução do overhead ou downsizing.  Ou seja, paradoxalmente, os fundos, que visam proteger o futuro dos seus milhares contribuintes, achatam a realidade de outros milhares de pessoas, em diversos países. Sendo que os prejudicados são sempre mais do que os beneficiados.

Há também a questão saúde. Vivo no país que se orgulha de ter o melhor sistema de saúde do mundo. Disso não sei. Verdade que muitos dos melhores hospitais do mundo cá estão, porém, até dizer que o sistema como um todo é bom, acho prá lá de otimista. Uma recente resenha dos 50 melhores hospitais americanos, em dezenas de categorias, revelou uma triste realidade. Dos 4900 e poucos hospitais classificados, somente 130 e pouco foram incluídos no top 50 em uma ou outra categoria. Ou seja, cair num hospital rural em South Dakota ou em Detroit pode ser tão perigoso quanto ser tratado em um hospital mediano brasileiro.

Sem contar que aqui qualquer médico meia boca se acha qualificado para cobrar 300 dólares ou mais por uma consulteca de 10 minutos. Isto depois de ter passado três horas na sala de espera cheia. E depois os médicos dizem que não estão ganhando grana. Não entendo muito bem essa equação...

Voltemos ao fulcro da questão. Mesmo vivendo até os 100 anos, muita gente idosa dobra o Cabo da Boa Esperança aos 80 e pouco. Isto se for de uma classe social mais abastada, pois os mais pobres, se chegarem aos 80, passarão anos terríveis.

Hospitais como lugares de cura são uma coisa nova na história da humanidade. Não é coincidência que até recentemente, a maioria das pessoas nascia em casa, pois hospitais eram lugares onde o gajo ia morrer, nas casas, nasciam. Os hospitais eram os purgatórios dos cemitérios. Sim, hoje em dia a medicina fez muitos avanços, porém, a partir de uma certa idade, a pessoa é mantida viva quase sem nenhuma dignidade. Enquanto isso, os bolsos dos profissionais da saúde, e dos hospitais e laboratórios, engordam. O sistema, me parece, ainda é bastante darwiniano. Que morram os mais pobres mais rapidamente, assim deixam de onerar o governo com suas aposentadorias e seguros saúde!

Muito tem se falado sobre o tal Obamacare. Pessoalmente, até agora foi um desapontamento para mim, com certeza porque as seguradoras têm gente muito esperta trabalhando para elas, que souberam fazer a coisa. Meu seguro, que cobre duas pessoas, me custa a bagatela de US$1,057.00 por mês. E só paga o primeiro centavo de cobertura a partir dos primeiros 12.000 dólares de gastos acumulados, por ano. Sim, esta é a bela franquia, 12.000 dólares acumulados! Dado o histórico e saúde meu e de minha esposa (nunca chegamos perto de gastar isso num único ano), provavelmente vai demorar algum tempo para eu sentir um real benefício. E tudo isso, aparentemente, é legal. Juridicamente legal, óbvio.

Temos as pressões da globalização, da futura falta de água fresca, ao mesmo tempo em que aumentará o nível da água salgada dos mares.  Ou seja, melhor já ir comprando um lugarzim na montanha, ou nos planaltos, pois as praias sumirão em 30, 40 anos, dizem uns. Uns também dizem que estamos com aumento global de temperatura, outros, que estamos numa pequena era glacial! Sem contar que os chineses podem resolver pular todos ao mesmo tempo e fazer o planeta tremer, e existe sempre a simpática ameaça dos raios gama solares atingirem a Terra e fritar nossos aparelhos cibernéticos, etc. E do Fidel Castro ainda viver mais uns 40 anos.

Enfim, não vejo com olhos muito otimistas o mundo em 2060, quanto atingir a tal idade mágica. Para mim, a vida centenária me parece uma roubada, e de mágica, nada tem.

Saturday, February 15, 2014

O mundo e seus falsos - e verdadeiros - pioneiros e inventores

O mundo dos negócios está repleto de herois, como Bill Gates e Steve Jobs, considerados pelas massas como verdadeiros inventores, a la Edson, de coisas como o sistema operacional DOS e o iPhone. Não há dúvidas que por trás de tanto heroísmo existe muito exagero. Não vou dizer armação, pois acredito que o povo pensa o que pensa por que é, acima de tudo, bobo, ingênuo e mal informado.

Há muito que não existem mais inventores, pelo menos de itens complexos, no esquema do grande e prolífico Edson. As últimas grandes invenções são geralmente fruto de centenas, senão milhares de horas de pensamento e testes efetuados por dezenas, ás vezes mais, profissionais trabalhando em conjunto, com investimentos de milhões. Quase tudo relevante é feito ou aperfeiçoado por comitê.

Sendo assim, engolimos a mentira de que Gates inventou o Dos, quando na realidade, comprou esta programação básica do seu inventor há mais de trinta anos atrás. Teve o mérito de ter a visão, e também, de ter acesso à grana, e muita sorte aliada à competência. Daí soube continuar a investir, expandir, proteger-se, acabar com concorrentes e tornou a Microsoft no fenômeno atual. Não tenho ideia se sabe ou não programar um computador, porém, o certo é que não inventou o DOS que lhe trouxe tanta fortuna.

Assim é que Jobs não inventou iPhones, ipods, ipads, etc. Sim, em última análise foi um grande gênio de marketing, soube como colocar estes produtos no mercado, porém, é preciso ter muita ingenuidade para achar que os produtos da empresa que geriu (e da qual se afastou) durante muitos anos eram gerados por diversas horas passadas por Steve em laboratório, ou mesmo concebido.

Quando era garoto, logo me apaixonei por corridas de carro. Como muitos meninos com ávida imaginação, tinha meus próprios países e continentes, e neles, cidades, personagens, empresas e campeonatos de automobolismo. Cresci no Brasil, nos anos 60 e 70, quando as emissoras de TV, mesmo em São Paulo, não passavam de seis. Ou seja, ninguém pensava na época em TV segmentada. Pois no meu continente tinha, a TV dos Carros, emissora que transmitia somente corridas de carro, nada mais.

Eventualmente, quando a TV a cabo estourou, e a tecnologia permitiu a expansão do número de canais, começaram a surgir canais de todos os tipos. Nos EUA, surgiu o Speed Channel, cuja proposta inicial era idêntica à da minha TV dos Carros. Sou gênio? Não, óbvio, só tinha muita imaginação. e certamente, nunca tive acesso a grana para lançar um canal de TV.

Falando em TV, nos últimos dez anos surgiu o fenômeno da Reality TV. Alguns dizem que foi o BBB original, o tal holandês, a criar o gênero, outros que foram os canais segmentados, ou outros antigos programas desconhecidos que não vingaram. Atualmente, aqui nos EUA, você pode assistir a dúzias de programas sobre a realidade do dia a dia de prostitutas, advogados, operadores de empresas de guincho, policiais, médicos, enfermeiros, etc.

Curiosamente, ao ler um exemplar recente da revista em quadrinhos "Disney Anni d`Oro", uma das revistas do grupo Disney editadas na Itália, me choquei ao descobrir que uma historinha com o Pato Donald, publicada na revista Topolino n. 1388, de 1982, descreve exatamente o que viriam a ser os reality shows de um futuro próximo. Na história "Paperino e la Serie Televisiva" (não sei se foi ou não editada no Brasil) um diretor de TV vê o Pato Donald sofrendo com sua vida, e decide fazer um "reality" com o pato. Não vou contar o resto da história, exceto que o tal show foi ao ar, e virou um grande sucesso, e um belo dia...

Quem diria...