Tuesday, July 15, 2014

A seleção brasileira e Detroit - um semi paralelo curioso

Embora os americanos não tenham inventado o carro, a verdade é que, em poucos anos, o país passou a dominar a fabricação de automóveis, que eram exportados para o mundo inteiro. O grande segredo dos americanos foi a criação da técnica de fabricação em massa, desenvolvida pela Ford e logo adotada pelas outras montadoras locais. Embora os europeus também tivessem diversos fabricantes, eram os carros, caminhões e ônibus americanos que faziam sucesso mundo afora.

Veio a segunda guerra mundial, devidamente ganha pelos aliados. De fato, estes só tomaram a dianteira com a entrada dos americanos, que além de contribuir muito pessoal, colocou á disposição das forças anti-Hitler todo poderio industrial americano, inclusive a indústria automobilística. A cidade de Detroit era orgulhosamente chamada de capital mundial do automóvel nessa época.

Após a guerra, os EUA, e sua indústria automotiva, continuaram a dominar mundialmente. Sou suficientemente velho para lembrar que os imensos carros americanos ainda eram o sonho de consumo de todo brasileiro, apesar da nascente indústria automobilística local, e sinônimo de qualidade. E cabe notar que no pós guerra, um dos perdedores da guerra, o Japão, nem tinha indústria automobilística.

Veio o Marshall Plan, e os anos 60, e aí algo curioso aconteceu. À mesma medida que a indústria automotiva crescia no Japão, a americana dava sinais de desgaste. À mesma medida que a qualidade dos carros japoneses aumentava, as grandes 4 montadores americanas colocavam nas ruas um projeto pior que o outro. Num curto espaço de vinte anos, os japoneses, que mal fabricavam carros nos anos 50, foram obtendo fatias cada vez maiores não só do mercado americano, mas mundial, com o keiratsu, just-in-time, e diversas outras técnicas industriais inventadas pelos engenhosos nipônicos. Ganhavam na quantidade e na qualidade.

Eventualmente, o setor automobilístico americano teve que encarar o óbvio - suas técnicas eram ultrapassadas, os produtos também, e a qualidade precisava melhorar, e muito. Um sinal do claro déclínio da outrora grandiosa indústria foi o constante colapso da cidade de Detroit, que recentemente inclusive declarou falência.

Os americanos tiveram que pedir arrego, e para sobreviver, engolir o orgulho de outrora hegemônico gigante e implementar o keiratsu, o just in time e as técnicas de controle de qualidade dos japoneses, pois o modelo americano se exaurira.

Hoje o setor sobrevive, apesar da quase hecatombe ocorrida em 2008, mas está longe de ser saudável.

Temos aqui um semi-paralelo. Digo semi por que, afinal de contas, o futebol nasceu na Europa, já era praticado antes naquele continente antes de vir para o Brasil. E antes do Brasil ganhar seu primeiro título mundial, a Itália e Alemanha já tinham ganho seus primeiros títulos.

Porém, nos últimos cinquenta anos, o futebol brasileiro foi considerado exemplo para o mundo inteiro. Padrões de jogo, habilidade e qualidade dos jogadores, com uma geração de craques após a outra, muitos dos quais foram jogar no exterior, maravilhando torcedores em todos os continentes. E agora a indústria do futebol brasileiro se vê na mesma situação de Detroit nos anos 70, 80. Obviamente alguém melhorou MUITO, enquanto nós pioramos MUITO. E precisamos engolir o orgulho, e obter ajuda. De fora.

Senão o futuro do nosso futebol é o mesmo da cidade de Detroit.      

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