Friday, July 11, 2014

Decisões tomadas por misticismo dá nisso

Lembro-me que havia um músico brasileiro que, diziam, tocava com um falso percussionista no palco. Supostamente, o dito cujo era pai de santo, ou coisa do tipo, e sua presença ali era para dar sorte. Como o músico é baiano, poderia ser também parte da imagem do baiano nas artes, frequentemente alinhada com o candomblé e religiões afro-brasileiras. Sei lá eu se todos realmente seguem tais religiões, pelo menos um baiano indicou num livro que não era muito chegado hoje em dia e sabe-se lá desde quando largou sua paixão pelas religiões afro. Porém o fato é que fez muitas músicas com temas religiosos no curso da sua carreira, ele e diversos dos seus colegas.

Na realidade, no caso deste outro músico, devia ser papo, pois o tal percussionista toca muito bem percussão. Não estava ali só para "dar sorte", com certeza. Se é ou não pai de santo, aí é outra história.

Longe de mim querer iniciar celeumas religiosas, não é o ponto deste blog.

Entretanto, me parece que muitas decisões referentes a escolhas de técnicos para as seleções brasileiras nos últimos 20 anos foram tomadas com um embasamento mais místico do que propriamente técnico.

Muita gente adorava dizer que o Zagalo "dava sorte", por ter sido o único, além de Pelé a ter ganho três Copas, duas como ponta-esquerda e uma como técnico. Convém lembrar que alguns meses antes da Copa, o técnico ainda era João Saldanha, que, abertamente comunista, não caía bem para os militares que governavam o país.

Atribuir a vitória em 1970 à sorte de Zagalo seria uma blasfêmia, pois quem sabe, com aquele time, até eu como técnico teria ganho. E com os nove anos que tinha na época. Bastava dizer "vão jogar bola".

A sorte de Zagalo (cujo nome passou a ser gravao Zagallo mais tarde...) não ajudou muito em 1974, e ele dançou, continuando sua carreira de técnico. Porém, algum gênio resolveu chamá-lo como assistente de Parreira, para a Seleção que disputaria a Copa de 94. Cabe lembrar que em 1990 a fraquíssima seleção tinha atingido o fundo do poço e a Seleção precisava de reforços de todos os tipos.

Para alegria dos místicos, o Brasil ganhou a Copa de 1994. Pronto, surgia o único tetra da parada, nem Pelé tinha esse título. Sim, o sortudo Zagallo, com um ou dois L, era o cara, a energia positiva do time, o ímã de sorte do selecionado canarinho. Com ele no banco estávamos garantidos.

Portanto, não foi com muita surpresa que o técnico convocado para liderar o Brasil em 1998 tenha sido o próprio Mário Zagallo, o amuleto vivo da seleção. E não é que o Brasil chegou à final? Bom, chegar à final não significa ganhar. Sendo assim, pelo jeito as "energias" de Zagallo estavam se exaurindo com o passar do tempo e ele foi mandado para escanteio.

Daí a Seleção passou por uns maus bocados, com diversos técnicos, e quem acabou sendo chefão foi Scolari, o Felipão. Chefão e ganhou a Copa de 2002. Apesar deste sucesso, Scolari caiu fora, e foi ser técnico na Europa, encher o bolso de Euros.

Zagallo acabou virando assistente mais uma vez, entre 2003 e 2006. Quem sabe nos 4 anos fora tivesse recarregado suas energias sortudas? Porém, apesar de um elenco forte, o Brasil se deu mal em 2006.

Curiosamente, com tanto técnico no Brasil, a CBF resolve contratar o Dunga, um dos heróis do time de 1994, como técnico do time. Sim, o primeiro trabalho de Dunga como técnico foi na Seleção!!! Seria algo assim como dar um Fórmula 1 para um moleque de 18 anos que acabara de tirar a carteira (e nunca dirigiu carro ou kart). Não se falou nada sobre as virtudes sortudas de Dunga, porém, o teimoso gaúcho perseverou no comando do selecionado, e considerando que era estreante, não fez feio. Só não chegou nem perto das finais.

Imagino que a a mesma veia mística tenha levado à escolha de Felipe Scolari, que "deu sorte" em 2002. Independente de claros sinais de desgaste do técnico, em grande parte responsável pela queda do Palmeiras da série A do Campeonato Brasileiro. O Scolari já tinha visto melhores dias.

Certamente a escolha de Zagallo durante tantas Copas tinha um elemento de misticismo, pois o carioca há muito tempo não conquistava nada. Estaria no banco nas últimas só para dar sorte?

No final das contas, nem Zagallo, nem Dunga, e nem o Scolari de 2014 deram sorte.

Nosso País tem um número incrível de cursos universitários, alguns até engraçados. Porém, desconheço que haja algum curso para técnicos de futebol. Se o futebol for levado à sério daqui para frente, seria interessante criar um curso deste tipo, e deixar para trás os "professores" que assumem times logo após pendurar as chuteiras, com fraca teoria, péssimos conhecimentos táticos e uma boa dose de preguiça. Afinal de contas, se os times Classe A não se recusam a pagar até 700 mil por mês aos tais "professores" (coitados dos verdadeiros professores), para que se esforçar mais?

Infelizmente, tirar o futebol brasileiro da sarjeta vai requerer uma atitude diferente, inclusive eliminar o fator sorte como critério de escolha de treinadores.

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