Thursday, July 10, 2014

Algo a se pensar

Desde que Pelé se aposentou no futebol brasileiro, em 1974, com certeza centenas de milhares de rapazes tentaram fazer a sua marca no esporte, começando nas categorias de base. Alguns atingiram nível profissional, passando a vida jogando nas centenas de Ibis e Moto Clubes desta nossa terra, jogando até por arroz e feijão. Alguns poucos fizeram carreira decentes em times razoáveis, outros tantos em times grandes, e um número menor ainda atingiu fama. Alguns chegaram a estatura de ídolos, tornando-se ricos. Entretanto, nenhum chegou aos pés do Pelé.

Sei que não se trata de uma unanimidade. Alguns vão dizer que Garrincha jogava mais, que Zico era o cara, tem até música para o fraco Fio. Porém, se não vamos atingir o consenso numa base subjetiva, que seja objetiva. Ninguém marcou mais gols. Nenhum jogador ganhou três Copas como ele. Nenhum jogador fez um lance tão bonito, que não foi gol, mas o juiz ainda assim marcou o tento! Nenhum jogador fazia parar guerras quando chegava num país. Nenhum jogador jogava bem em todas as posições - até no gol Pelé jogou numa partida e não fez feio. Nenhum jogador era aplaudido por juízes, adversários e torcidas dos adversários, em todos os países onde pisava. Reis, Papas e Presidentes queriam conhecê-lo de perto. Nenhum negro era tão respeitado no Brasil nos anos 50, 60.

Sim, como pessoa pública Pelé já falou muita besteira, sobre uma série de assuntos. Todo homem público faz isso. Não é nenhum Einstein, e certamente, fora do futebol tem poucos talentos. Porém, é um poço de simpatia, sim, a simpatia é um dos seus talentos. Nas três vezes em que interagi pessoalmente com ele, me tratou muito bem, como se fosse meu amigo de infância. Continua a representar bem a imagem do Brasil aqui fora.

Não digo tudo isso por que sou torcedor do Santos. Digo isso por que Pelé foi, e é, sem dúvida, o rei do futebol mundial e merece respeito, apesar da opinião dos despeitados Maradonas.

Quando ocorreu a primeira Copa no Brasil, Pelé tinha meros nove anos, e morava longe de qualquer cidade onde foram realizados jogos. Estava a muita distância do Maracanã naquele fatídico dia do Maracanazo. Foi uma realidade bem distante do Edson Arantes do Nascimento, a Copa de 1950.

Nesta Copa de 2014, um dos grandes heróis do Brasil já é um senhor. Não vive mais da bola, mas de sua imagem. E se o Brasil estivesse na final, e ganhasse a Copa, lá estaria Pelé no mesmo Maracanã de 1950.

Existe um pouco de justiça no fato do time ter se perdido naquele final de tarde de uma terça-feira. Isto porque, a meu ver houve um grande desrespeito. Enquanto o Brasil ia se aproximando do hexa, alguém resolveu que era hora de colocar o condenado filho do grande jogador, Edinho, na cadeia.

Não vou entrar nos méritos da culpa ou não de Edinho, até por que não segui o processo, não sei detalhes e não posso, e nem devo, me manifestar sobre o assunto. Só sei que poderiam ter esperado para colocar o filho do grande jogador numa cela comum. Podiam esperar duas, três semanas. Não havia tanta premência assim para tirar Edinho da sociedade durante Copa, afinal de contas, ele não cometeu nenhum hediondo crime de sangue.

Houve um grande desrespeito com a pessoa do herói nacional Pelé, isso sim. Alguém que não gosta muito de futebol, do Santos, do Pelé, ou quem sabe outra razão pior ainda, de cunho pessoal, alguém quis aparecer.

Daí digo que houve uma certa justiça na nossa derrota, pois agora Pelé não terá que fazer o papel constrangedor de comparecer ao Maracanã, risonho, no domingo, para comemorar uma possível vitória do Brasil. Se quiser, pode ficar tranquilo em casa, chorando o destino do filho.

Nesse ponto, o 7 x 1 foi um bálsamo.  

O país que não sabe honrar seus heróis não merece muitas conquistas.

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