Friday, June 21, 2013

Manifesto dos Três Porquinhos em resposta ao Manifesto do Lobão II

Pois então, Lobão aqui é o Cícero de novo.

Disse que ia falar de roquenrou, vou falar de roquenrou.

Mais primeiro, queria me referir a uma entrevista que você deu num programa, que está no youtube. Nela, você diz que bossa nova é música de elevador e brochante. Diz que a música popular brasileira, a tal MPB, não tem potência, seria música frouxa, de frouxos para frouxos. Bem, Lobão, não sei tocar guitarra ou bateria como você, porém, não sou completamente amusical, arranho um tecladinho. Acho que uma pessoa não pode confundir gosto, e fazer julgamentos negativos sobre um gênero musical inteiro que não aprecia. Eu por exemplo, não gosto de sertanejo. Acho que me faz lembrar da fazenda, sacumé, gente querendo matar nós, os porcos. Deve ser trauma. Porém, não tiro o mérito deste tipo de música, como não tiro do hip-hop, outra música que não me agrada.

Quanto à bossa nova ser música de elevador, se não me engano, a sua música mais regravada por outros, e quem sabe a mais famosa, com a qual você estourou, era o "Me chama", uma baladinha bem elevadoresca.

Mas lendo o seu livro, às vezes você parece ser contra o roquenrou brasileiro, ás vezes à favor, fica tudo muito estranho. Com certeza, você se acha. Se acha um ícone do roquenrou brasileiro. E até é. Só que de rock internacional...

Concordo com você que de modo geral o rock brasileiro é mal gravado. Tá certo que em certa época só havia gravadores de 8 canais ou menos, mas mesmo quando apareceram as grandes máquinas, o som sempre foi bem frouxinho.

Mas o roquenrou brasileiro é um estilo em si próprio, que não pode se equiparar ao rock internacional. Como o nosso sertanejo não pode ser comparado ao Country Music americano.

Primeiro as vozes. Desculpe, Lobão, mas você não canta nada! E o rock internacional tem vozes como Robert Plant, Jon Anderson, Dennis de Young, Steve Perry, Noddy Holder, Roger Daltrey, Paul McCartney, Ian Gillan, David Byron, Steve Walsh (Kansas), Ian Anderson, Steve Tyler, Greg Lake, Freddy Mercury, Geddy Lee, Justin Hayward, e uma cacetada de gente. E o nosso rock tem você, Cazuza, Paula Toller, Roger, Evandro, Lulu Santos... Come on!!! Não há comparação. Há um ou outro que se salve. Porém, no Brasil existe aquela tradição do compositor querer ser cantor, para ganhar mais royalties, e dá no que dá. Os cantores de roquenrou brasileiro têm a voz tão xinfrim quanto o Chico Buarque, que pelo menos admite isso numa música  de 1977.

Depois você fala do brasileiro carregar aquela alcunha de povo bem humorado, de bem com a vida, piadista, seríamos alegorias de nós mesmos, étnicos palhaços para o mundo. Se não me engano você até menciona os grupos de pagode e seus eternamente sorridentes rostos. Não sei não, Lobão, mas no roquenrou brasileiro também há uma certa tradição de Mamonas Assassinas, Eduardo Duzek, Leo Jaime, Blitz, Paralamas de fazer letras piadistas, desde a época dos Mutantes e da Rita Lee. Se os letristas de roquenrou brasileiro não são levados muito à sério, acho que parte da culpa é deles. Inclusive você.

Já no rock internacional, a tradição, pelo menos nos anos 60 a 80, era fazer letras sobre temas relevantes e sérios. Você diz odiar canções de protesto, e músicas com motivos "esquerdistas", então, detesta grande parte do rock internacional feito nos anos 60 a 80! Ou então, não entendia as letras.

Por outro lado, você reclama que a MPB, calcada na Semana de Arte Moderna de 1922, se atém a temas brasileiros, pobreza e escambau. Sei, entretanto, que você entende inglês, portanto, sabe muito bem que grande parte das letras de grupos ingleses de 60 a 80, se atinha a temas ingleses, principalmente da classe trabalhadora, e as letras dos americanos, sobre a vida americana. Queria você o que, que escrevessem sobre a Finlândia ou Indonésia?  As pessoas escrevem sobre o que conhecem, me parece lógico.

Quanto a instrumentação, nosso roquenrou realmente se aproxima mais de música pop, do que qualquer outra coisa. Como você disse, todo mundo toca meio embolado, mas os bateristas também não tocam muito nos pratos, parecem ter medo dos pratos. Pratos não mordem!

Assim que, se o nosso roquenrou produziu alguma músicas engraçadinhas e algumas boas, porém, de modo geral, fica a dever ao rock inglês, americano, e mesmo ao alemão, canadense e australiano. Está longe de ser a música de melhor qualidade instrumental, harmônica e melódica produzida no Brasil.

Meus irmãos Heitor e Prático concordam comigo, e assinam em baixo. Só que Heitor estava com preguiça, e Prático, ocupado.


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