Friday, June 21, 2013

O GRANDE PUM

Quem nunca sentiu problema com gases? Duvido que haja alguém neste mundo, por mais saudável que seja a sua dieta, que não tenha experimentado este tipo de problema.  É difícil crer que os mesmos alimentos que nutrem o nosso ser, no seu processo de digestão gerem gases que causem tanto desconforto. Os gases internos parecem apertar todos os órgãos, e às vezes dão a sensação de que estamos tendo um ataque cardíaco, derrame ou que a morte nos espera em poucos segundos. Sentimo-nos inflados, prontos a explodir.

Não sou um insensível, quem sabe um pouco irônico além da conta, mas de modo geral, sou um cara higiênico, gosto de passarinhos, patos e flores, tenho a minha dentição completa, embora a dentista insista em querer arrancar meus dentes do siso. Tenho medo disto, de perder o pouco siso que me resta.

Sei que comparar a recente onda de manifestações a uma grandiosa flatulência pode parecer desrespeito ao povo verde-amarelo, porém não é. Sou verde-amarelo também, afinal de contas. As manifestações estão sendo como um grande pum que está trazendo alívio para o povo que está sofrendo com um  problema antigo, gases que inflam as suas contas bancárias, carteiras e aplicações.

Eis a poesia no meio das minhas divagações digestivas, analogia das analogias, desculpem o pseudo trocadilho. Sim, é o inimigo de sempre, que parece estar ameaçando a nação de volta. A maléfica, terrível, diabólica inflação que corrói a economia popular, erode os investimentos, e faz do Pibão um Pibinho.

Não se enganem. Alguns dizem que o povo foi para a rua meramente por causa da corrupção. O povo foi para a rua pela mesma razão que foi para a rua em 1964 e 1984: advinhou, a inflação que começa a mostrar suas garrinhas.

Em 1964, um pouco antes do golpe, o processo inflacionário já estava completamente fora do controle como nunca dantes no país. Algo tinha que ser feito. Alguns até hoje vêm o golpe como uma questão meramente ideológica, de direita contra esquerda, capitalismo contra comunismo, sargentos contra generais, porém, a realidade é que o povo só foi para a rua quando a inflação parecia estar fora de controle do governo atual.

De maneira análoga, embora já vivêssemos com um processo inflacionário desde o choque do petróleo de 1974, na realidade as coisas se agravaram a partir de 1980, quando se deu início à década perdida da nossa amável nação. Após a deprimente moratória  de 1982, que nos trazia de volta à condição de mera república de bananas, o povo começou a cobrar dos militares a prometida volta ao governo civil. Entretanto, a meu ver, o estopim da coisa não foi as Diretas Já em si, mas sim a esperança de que um novo tipo de governo pudesse estancar o processo inflacionário.

Tanto é que apesar de todo barulho, as eleições ainda não foram Diretas em 1984, e foi eleito o Sr. Tancredo, porém, inexplicavelmente quis o voluntarioso destino que levasse os louros o Sr. Sarney. Levous os louros, morenos e carecas. O povo se aquietou, pois afinal de contas o presidente não vestia fardão verde nem andava a cavalo, e sim portava um jaquetão que ficou famoso no imaginário político brasileiro e era dado às letras.

Depois, a continuação da teimosa inflação levou às diretas de 1989 e ao impeachment de Collor em 1992.

Agora, depois de um outro período de milagre brasileiro, diga-se de passagem, um período em que tivemos marolinha enquanto o mundo passava por um tsunami, de novo o povo vai às ruas, indignado.

Já diziam os romanos, pão e circo.

Meu postulado é simples, portanto, permitam-me compartilhar a minha simplicidade com o mundo. Durante os nossos anos de milagre mais recentes, a corrupção já existia solta, de fato, para todo lado, e estava sendo divulgada nos jornais. Na realidade a questão Mensalão apareceu bem no meio do milagre. O povo nada fez. Ficou comprando seus celulares, financiando seus carros em 96 prestações, pagando tudo em dez vezes sem juros, viajando cinco vezes para a Disney alguns, e comprando carne frequentemente pela primeira vez na vida, outros. Todos estavam felizes em ficar em casa, assistindo o Ratinho ou novelas.

Portanto, assim como em 64 e 84, a principal causa, o motor principal da ira popular é a inflação que ameaça o país mais uma vez. Este bafo infernalmente quente que infla os mais remotos recônditos dos intestinos da nação, que causam desconforto e dor, está ameaçando voltar com tudo.

Ou seja, um grande pum é o que estamos testemunhando.  

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